sábado, 13 de dezembro de 2008

Pudessem voltar como gaivotas: Lowell


[s/i/c]



Water


It was a Maine lobster town—

each morning boatloads of hands

pushed off for granite

quarries on the islands,


and left dozens of bleak

white frame houses stuck

like oyster shells

on a hill of rock,


and below us, the sea lapped

the raw little match-stick

mazes of a weir,

where the fish for bait were trapped.


Remember? We sat on a slab of rock.

From this distance in time

it seems the color

of iris, rotting and turning purpler,


but it was only

the usual gray rock

turning the usual green

when drenched by the sea.


The sea drenched the rock

at our feet all day,

and kept tearing away

flake after flake.


One night you dreamed

you were a mermaid clinging to a wharf-pile,

and trying to pull

off the barnacles with your hands.


We wished our two souls

might return like gulls

to the rock. In the end,

the water was too cold for us.


Robert Lowell



Água


Era uma vila lagosteira no Maine—

a cada manhã barcadas de mãos

forcejavam em pedreiras

de granito pelas ilhas,


e deixavam dúzias de áridas

casas silhuetadas em branco e encrustadas

como ostras

numa colina de pedra,


e abaixo de nós, o mar rodeava

a pequena e rústica armadilha

labirintos de caniçada,

onde os peixes pela isca se encurralavam.


Lembra? Sentávamos numa fenda da rocha.

Dessa distância de tempo

parece que a cor da

íris, sazonava e purpurejava,


mas era só

a usual rocha cinza

sorvendo o verde habitual

quando banhada pelo mar.


O mar banhava a rocha

a nossos pés o dia todo,

e seguia dilacerando

um floco após outro.


Certa noite sonhaste

que eras uma sereia agarrada ao pilar do píer,

e tentando arrancar as cracas

com as próprias mãos.


Desejamos que nossas almas

pudessem voltar como gaivotas

para a rocha. No fim,

A água era fria demais para nós.




Nota – Este ano foi lançada a correspondência entre Elisabeth Bishop e Robert Lowell. O volume tem mais de oitocentas páginas, pois que eles trocaram cartas por mais de 30 anos. Á certa altura, ao que tudo indica, Lowell, que sofreu várias crises nervosas e internamentos psiquiátricos, apaixonou-se pela amiga, que era lésbica. E lhe fez uma proposta de casamento por carta. À época, Bishop morava no Brasil, na companhia de Lota de Macedo Soares. Em sua resposta, Bishop indica a Lowell o nome de um terapeuta em Cambridge Massachusetts, onde ele estava morando. Ao que também tudo indica, muito antes disso, eles parecem ter conhecido um pequeno idílio, durante um feriado, em certa cidadezinha lagosteira na costa do Maine. O registro deste idílio, nas palavras de Lowell – com sua obsessão pelo confessional – encontra-se aqui acima. Posto isto porque dificilmente se vai encontrar na poesia brasileira algo análogo - com a possível exceção de Mário de Andrade e seus inúmeros correspondentes - no que diz respeito a se manter uma conversa ao mesmo tempo afetiva e interessada pelos aspectos mais áridos, técnicos, formais de poesia ou estética. Há várias boas resenhas sobre esse livro de cartas (Words on Air) pela net afora. Assim como também há alguns poemas tanto de Bishop quanto de Lowell traduzidos aqui por Afetivagem. Listo alguns, com os linques respectivos:


de Bishop:

Florida (Flórida)

One Arte (Uma Arte)

Conversation (Conversa)

I am in need of music (Ando precisada de música)

North Haven (North Haven)


de Lowell:

Sylvia (Sílvia)

Sailing Home From Rapallo (Voltando de Rapallo por Mar)

For Sale (À Venda)

Epilogue (Epílogo)




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