[s/i/c]
Water
It was a Maine lobster town—
each morning boatloads of hands
pushed off for granite
quarries on the islands,
and left dozens of bleak
white frame houses stuck
like oyster shells
on a hill of rock,
and below us, the sea lapped
the raw little match-stick
mazes of a weir,
where the fish for bait were trapped.
Remember? We sat on a slab of rock.
From this distance in time
it seems the color
of iris, rotting and turning purpler,
but it was only
the usual gray rock
turning the usual green
when drenched by the sea.
The sea drenched the rock
at our feet all day,
and kept tearing away
flake after flake.
One night you dreamed
you were a mermaid clinging to a wharf-pile,
and trying to pull
off the barnacles with your hands.
We wished our two souls
might return like gulls
to the rock. In the end,
the water was too cold for us.
Robert Lowell
Água
Era uma vila lagosteira no Maine—
a cada manhã barcadas de mãos
forcejavam em pedreiras
de granito pelas ilhas,
e deixavam dúzias de áridas
casas silhuetadas em branco e encrustadas
como ostras
numa colina de pedra,
e abaixo de nós, o mar rodeava
a pequena e rústica armadilha
labirintos de caniçada,
onde os peixes pela isca se encurralavam.
Lembra? Sentávamos numa fenda da rocha.
Dessa distância de tempo
parece que a cor da
íris, sazonava e purpurejava,
mas era só
a usual rocha cinza
sorvendo o verde habitual
quando banhada pelo mar.
O mar banhava a rocha
a nossos pés o dia todo,
e seguia dilacerando
um floco após outro.
Certa noite sonhaste
que eras uma sereia agarrada ao pilar do píer,
e tentando arrancar as cracas
com as próprias mãos.
Desejamos que nossas almas
pudessem voltar como gaivotas
para a rocha. No fim,
A água era fria demais para nós.
Nota – Este ano foi lançada a correspondência entre Elisabeth Bishop e Robert Lowell. O volume tem mais de oitocentas páginas, pois que eles trocaram cartas por mais de 30 anos. Á certa altura, ao que tudo indica, Lowell, que sofreu várias crises nervosas e internamentos psiquiátricos, apaixonou-se pela amiga, que era lésbica. E lhe fez uma proposta de casamento por carta. À época, Bishop morava no Brasil, na companhia de Lota de Macedo Soares. Em sua resposta, Bishop indica a Lowell o nome de um terapeuta em Cambridge Massachusetts, onde ele estava morando. Ao que também tudo indica, muito antes disso, eles parecem ter conhecido um pequeno idílio, durante um feriado, em certa cidadezinha lagosteira na costa do Maine. O registro deste idílio, nas palavras de Lowell – com sua obsessão pelo confessional – encontra-se aqui acima. Posto isto porque dificilmente se vai encontrar na poesia brasileira algo análogo - com a possível exceção de Mário de Andrade e seus inúmeros correspondentes - no que diz respeito a se manter uma conversa ao mesmo tempo afetiva e interessada pelos aspectos mais áridos, técnicos, formais de poesia ou estética. Há várias boas resenhas sobre esse livro de cartas (Words on Air) pela net afora. Assim como também há alguns poemas tanto de Bishop quanto de Lowell traduzidos aqui por Afetivagem. Listo alguns, com os linques respectivos:
de Bishop:
I am in need of music (Ando precisada de música)
de Lowell:
Sailing Home From Rapallo (Voltando de Rapallo por Mar)
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