[s/i/c] um taco de hurling [ou um hurley]
Slow as Grass
I’m growing patience as the cut grass grows
Blunt headed, stubborn, in a warm November,
Blunt where cut to last all winter but it grows
On, blunt headed. I am not yet patient as the grass,
Waiting the melt of mist that soaked it flat
Splashed by the feet of cattle into suns,
Hoof high. As the sun climbs the day dries.
Now elephant cloud teams drag behind them grey
Tarpaulin, evening. Riding it come children
Last seen trailing (like dressing gown chords) their dreams.
At dusk I hurl a ball with them, still waiting,
Pretending a day complete which is only ending,
Growing to patience as they will have to grow
Or mimic what seems day’s business, but day
Is never busy, is as slow as grass.
P. J. Kavanagh
Lento quanto grama
Ando cultivando paciência como a grama lenta cresce
Aparada, obstinada, num cálido novembro,
Aparada no talo para atravessar o inverno, mas segue
Adiante, aparada. Ainda não sou tão paciente quanto grama,
A esperar o degelo da geada que molhou-a plana,
Espalhada pelas patas do gado como sóis,
Altos cascos. Enquanto o sol eleva-se, o dia seca.
Ora cachos de nuvens em elefante arrastam encerados
Cinzas, noite. Passeando-a vêm os últimos
Sonhos vistos de relance (como em tiras de roupão) das crianças.
Ao ocaso bato uma bola com elas, ainda aguardando,
Simulando um dia completo que não está de todo findo,
Crescendo em paciência como elas terão de crescer
Ou imitar o que surge no lance dos dias, mas o dia
Nunca está ganho, é tão lento quanto grama.
Nota – hurl (a ball) [4º v., 2ª est.], verbo que, no contexto, indica o hurling, variante do jogo de hóquei, muito popular na Inglaterra, em especial entre descendentes de irlandeses – como no caso de Kavanagh. Hurley é o nome dado aos tacos do jogo, cuja pá é um pouco mais larga que a do hóquei e, portanto, castiga ainda mais a grama sobre a qual o jogo transcorre. [[s/i/c] é a abreviação para "sem indicação de crédito", usada em várias ilustrações blogue afora, das quais foi impossível apurar o autor].
"Riding it come children / Last seen trailing (like dressing gown chords) their dreams". Gostei muito desses versos, mas sua tradução alterou um pouco demais o sentido, não? "Sobre ele vêm crianças vistas pela última vez trilhando (como tiras de roupão) seus sonhos". Essa idéia de "last seen trailing their dreams" é um pouco clichê, mas ficou bonita aí. Outro verso muito bom, que li de outro jeito, mas acho que erroneamente: "still waiting / Pretending a day complete which is only ending". Muito bom isso, mas leio como se o suejeito fingisse que o dia estivesse completo, como se ele tivesse realizado plenamente o dia, quando na verdade o dia está acabando, mas incompleto, irrealizado. A very sad thought.
ResponderExcluirAbraço!
veja, odorico, "sobre 'ele'", não faz sentido. se está falando de grama... portanto sobre 'ela' - a grama suporta, com paciência, ainda mais essa vez, a pisadela das crianças. esse é o sentido q. pede a precedência, independente de acharmos ou não bonita a construção q. segue. (e ela é de fato, como v. aponta!). isto, em parte, explica o restante da minha solução. o sentido almejado é o mesmo do seu, mas apenas numa combinação distinta de palavras, q. talvez lhe agrade menos, porque v. em geral, almeja mais q. o protuguês soe mais como inglês do q. eu. [e isso não é um pensamento de todo mau]. o problema é q. as vezes, v. quer, talvez um tanto inconscientemente, q. o português "seja" o inglês. [aqui, sim, temos problema]. porque é tao-só pela diferença dos dois que é possível traduzir.
ResponderExcluir'complet' é 'completo', em português. há só uma palavra de registo em meu dicionário. mas, veja, ela repassa, me parece, a mesma idéia q. v. reivindica. e q., inclusive, é "a" idéia, a meu ver (como v. bem aponta).
mas, claro, essa idéia da frustração (frustração administrada, consciente, triste e um pouco auto-resignada ou estóica) precisa ser reforçada. então, troquei o 'cheio' por 'ganho', no último verso. e acho que ficou melhor, por dobrar em ritmo o 'g' de 'grama', q. é a figura nuclear do poema.
de resto, há mais um depoimento, desta vez de philip larkin contra o bilinguismo, ele diz: [...] "a writer can have only one language, if language is going to mean anything to him".
a entrevista toda é excelente, pela falta de solenidade e humor. enviei a seu imeio o linque da Paris Review onde ela está, em pdf.
grato pelo comentário.
abs.