terça-feira, 28 de julho de 2009

Revelar o invisível a partir da crença no visível


Jean Vigo, L'Atalante, 1934




Minimalismo-barroco: uma sinopse



"Se um autor se deixa comover pela paisagem escolhida, se esta lhe evoca recordações e sugere associações, ainda que subjetivas, isso, por sua vez, provocará no público uma emoção específica".

[Tarkovski]




Durante algum tempo, mantive com Alexandre Veras, ao longo da feição dos documentários que realizamos em parceria, uma conversa sobre cinema e revelação. Meu ponto de vista pode ser resumido a dois aspectos: i. um cinema apto a REVELAR; ii. um cinema que se contrapõe aos excessos barrocos da arte brasileira em geral. A este cinema [ou a este modo de encarar o desafio de ensaiar uma nova concepção estética de cinema] denominei, por contraste radical, de minimalismo-barroco. Ele se sustenta, basicamente, em duas assertivas. A primeira, está suficientemente bem expressa por André Bazin, da seguinte forma:

O realismo busca expressar simultaneamente o concreto [contingente, transitório] e o essencial do mundo. O falso realismo se contenta em nos fornecer uma ilusão das formas. A fotografia liberou a pintura barroca dessa obsessão pela semelhança.

A segunda pode ser expressa através desta frase de Benjamin:

O passado deve tornar-se citável em todos os seus momentos.

A primeira evita qualquer especulação mais rococó ou preciosista sobre a relação entre realidade exterior e imagem. Ou seja, ela insiste em que só porque existe uma realidade exterior existem imagens que a reflectem. [Aqui, sem vice-versa, a precedência é do mundo (concreto, exterior)]. A segunda aponta para o fato de que se o filme não possuir um esteio sócio-histórico calcado numa consciência do passado, das prévias condições históricas que cercam o assunto do filme, ele será uma mistificação. Eis a razão pela qual, para um cineasta como Rohmer, um cinema puramente visual é incapaz de dimensionar valores morais. Com isto Rohmer ataca aquele tipo de cinema que se fecha sobre si ao modo de uma vanguarda esotérica e supostamente atemporal.

A fórmula que melhor achei de traduzir tudo isso num modo compacto foi: “o cinema revela o invisível sem violar a visibilidade das coisas”.

Para um maior contexto sobre a produção de cinema documental contemporânea no Ceará, este artigo online na revista Cinética, de São Paulo, da autoria de Cleber Eduardo:


[http://www.revistacinetica.com.br/doctvesquinas.htm]


Para uma contextualização em livro, consultar Filmar o Real - Sobre o documentário brasileiro contemporâneo, de Consuelo Lins e Cláudia Mesquita, Ed. Zahar, 2008.




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Um comentário:

  1. ruy:
    quando a câmera filma durante tempo a chaleira de uma personagem de vilas volantes, sabe, acho que é isso.
    outro abraço!
    victor

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