Egon Schiele, [sem precisão da data]
Corona
Aus der Hand frißt der Herbst mir sein Blatt: wir sind Freunde.
Wir schälen die Zeit aus den Nüssen und lehren sie gehen:
die Zeit kehrt zurück in die Schale.
Im Spiegel ist Sonntag,
im Traum wird geschlafen,
der Mund redet wahr.
Mein Aug steigt hinab zum Geschlecht der Geliebten:
wir sehen uns an,
wir sagen uns Dunkles,
wir lieben einander wie Mohn und Gedächtnis,
wir schlafen wie Wein in den Muscheln,
wie das Meer im Blutstrahl des Mondes.
Wir stehen umschlungen im Fenster, sie sehen uns zu von der Straße:
es ist Zeit, daß man weiß!
Es ist Zeit, daß der Stein sich zu blühen bequemt,
daß der Unrast ein Herz schlägt.
Es ist Zeit, daß es Zeit wird.
Es ist Zeit.
Wir schälen die Zeit aus den Nüssen und lehren sie gehen:
die Zeit kehrt zurück in die Schale.
Im Spiegel ist Sonntag,
im Traum wird geschlafen,
der Mund redet wahr.
Mein Aug steigt hinab zum Geschlecht der Geliebten:
wir sehen uns an,
wir sagen uns Dunkles,
wir lieben einander wie Mohn und Gedächtnis,
wir schlafen wie Wein in den Muscheln,
wie das Meer im Blutstrahl des Mondes.
Wir stehen umschlungen im Fenster, sie sehen uns zu von der Straße:
es ist Zeit, daß man weiß!
Es ist Zeit, daß der Stein sich zu blühen bequemt,
daß der Unrast ein Herz schlägt.
Es ist Zeit, daß es Zeit wird.
Es ist Zeit.
Paul Celan
Corona
O outono come sua folha na minha mão: somos amigos.
Das nozes, descascamos o tempo e lhe ensinamos os passos:
e o tempo retorna à casca.
É domingo no espelho,
no sono há vez para o sonho,
a boca fala verdade.
Meu olho desce para o sexo da que amo:
nos entreolhamos,
trocamos palavras obscuras,
nos amamos como papoula e memória,
dormimos como vinho em conchas,
como o mar no raio de sangue da lua.
Ficamos à janela abraçados e, da rua, os passantes
nos vêem:
é tempo eles sabem!
Tempo da pedra esforçar-se e florar,
tempo do desassossego ter um pulso.
É tempo, que seja tempo.
O outono come sua folha na minha mão: somos amigos.
Das nozes, descascamos o tempo e lhe ensinamos os passos:
e o tempo retorna à casca.
É domingo no espelho,
no sono há vez para o sonho,
a boca fala verdade.
Meu olho desce para o sexo da que amo:
nos entreolhamos,
trocamos palavras obscuras,
nos amamos como papoula e memória,
dormimos como vinho em conchas,
como o mar no raio de sangue da lua.
Ficamos à janela abraçados e, da rua, os passantes
nos vêem:
é tempo eles sabem!
Tempo da pedra esforçar-se e florar,
tempo do desassossego ter um pulso.
É tempo, que seja tempo.
É tempo.
Nota - este é um poema da minha paixão. O alemão não é uma língua da qual traduzo com facilidade. Muito ao contrário. Mas este poema, por incrível que pareça - pois se trata de uma peça bastante "hermética" - como quase tudo em Celan, talvez por sua estrutura em parataxe não é de difícil tradução. Ele é simples, como costumam ser, em essência, os bons poemas. E fiquei muito feliz quando consegui traduzi-lo, uns dez anos atrás. Até porque cheguei à conclusão, após haver traduzido alguns outros poemas de Celan, que este é, de longe, meu favorito. Há um poeta brasileiro, Age de Carvalho, que conhece em profundidade a obra de Celan. Este poeta paraense mora há muitos anos na Alemanha (e também viveu em Viena durante algum tempo). É quem está em melhor posição para traduzi-lo, se a tradução consistir numa prioridade para ele. De qualquer forma, Carvalho parece ser desses poetas únicos, difíceis de associar a alguma das ondas e modas em curso. A um dos diversos "parnasianismos" que conformam o panorama de momento da poesia no Brasil. À época em que escreveu "Corona," Celan estava envolvido emocionalmente com a escritora judia-austríaca Ingborg Bachmann. E também atraído pela figura mística do Cristo, apesar de ser judeu. "Tempo da pedra esforçar-se e florar". Isso lembra o Williams de "Saxifrage" ("Saxifrage is my flower that splits the rocks"). Ufa, hoje eu 'tava bem disposto para esse blogue: oito postagens. É que escrever passa por estar me sentindo bem na escrita. Não consigo escrever quando estou mal. Escrever, para mim, é sinônimo de bem-estar. De estar minimamente feliz e grafar palavras a partir. Isso pode soar quase sacrílego em se tratando de um poeta tão torturado quanto Celan. Mas acho que Celan, a seu modo, concordaria comigo. Originalmente publiquei esta tradução no jornal O Povo, ao final da década de 90, como complemento de um artigo sobre o autor de Todesfuge .
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