Franz Post, sec. XVI
Das palavras sem mundo: seis grifos
Desconfiar dos poemas que saem do dicionário. Se ocupam com palavras raras. E, no entanto, se esquecem de criar um espaço para elas.
Essa tendência para poemas do dicionário, tão comum entre os cultores do neo-barroco. Tão presente em um autor como Haroldo de Campos.
Se o poema não guarda do mundo sequer o papel termosselante que envolve o chocolate: como poder degustá-lo a contento?
Uma coisa é achar coisas já possuídas e que podemos pressentir que se reúnem por detrás da realidade. Pois esse nexo há até numa concepção mais, digamos, surrealista - cuja tradição foi em geral melhor cultivada no espanhol e em Portugal do que por aqui. Outra, muito diferente, é pôr uma série de termos raros - muitas vezes sem nenhuma elaboração sintática - e dizer: "eis um poema"!
Em geral, o excesso de epígrafes e referências depõe contra qualquer escritor que não seja Jorge Luis Borges. Pois até em Borges há uma precedência de mundo. De viagens ao interior do "remoto" Uruguai, de um passeio à tarde por uma calle portenha. E seus livros que derivam de livros, como a História Universal da Infâmia, são abertamente cômicos. Ou mesmo quase farsescos. E, notem, não se rendem apenas a circunvoluções críticas, uma vez que há verve e narração neles.
É necessário também não esquecer que devemos nuançar declarações assim. Como? Outro dia, li um poema de uma autora vinculada à essa tendência do neo-barroco, a paranaense Josely Vianna Baptista. Mas era um belo poema ("António de Gouveia, Clérigo em Pernambuco"). Nada moldado pelo especioso empréstimo do termo raro tomado ao léxico. Do contrário, calcado em história. Parecendo provir da leitura de um um um diário empoeirado, guardado em uma arca de mogno encerrada por pesados fechos de latão, e ignorado anos a fio. Pode-se crer em poemas assim.
Essa tendência para poemas do dicionário, tão comum entre os cultores do neo-barroco. Tão presente em um autor como Haroldo de Campos.
Se o poema não guarda do mundo sequer o papel termosselante que envolve o chocolate: como poder degustá-lo a contento?
Uma coisa é achar coisas já possuídas e que podemos pressentir que se reúnem por detrás da realidade. Pois esse nexo há até numa concepção mais, digamos, surrealista - cuja tradição foi em geral melhor cultivada no espanhol e em Portugal do que por aqui. Outra, muito diferente, é pôr uma série de termos raros - muitas vezes sem nenhuma elaboração sintática - e dizer: "eis um poema"!
Em geral, o excesso de epígrafes e referências depõe contra qualquer escritor que não seja Jorge Luis Borges. Pois até em Borges há uma precedência de mundo. De viagens ao interior do "remoto" Uruguai, de um passeio à tarde por uma calle portenha. E seus livros que derivam de livros, como a História Universal da Infâmia, são abertamente cômicos. Ou mesmo quase farsescos. E, notem, não se rendem apenas a circunvoluções críticas, uma vez que há verve e narração neles.
É necessário também não esquecer que devemos nuançar declarações assim. Como? Outro dia, li um poema de uma autora vinculada à essa tendência do neo-barroco, a paranaense Josely Vianna Baptista. Mas era um belo poema ("António de Gouveia, Clérigo em Pernambuco"). Nada moldado pelo especioso empréstimo do termo raro tomado ao léxico. Do contrário, calcado em história. Parecendo provir da leitura de um um um diário empoeirado, guardado em uma arca de mogno encerrada por pesados fechos de latão, e ignorado anos a fio. Pode-se crer em poemas assim.
assino embaixo, ruy. parece uma praga em certa poesia brasileira contemporânea. não vejo a menor graça nesta "poesia de dicionario". muitas vezes poemas apenas pretensamente "cultos" mas não dizem absolutamente nada. não é o caso da poesia da josely . abraço, rodrigo
ResponderExcluircertamente não é o caso, meu caro rodrigo!
ResponderExcluirjosely possui também uma bela lista de serviços prestados como tradutora. entre outros, de ninguém menos que borges, como sabemos.
abs.