segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Entra, não precisa pedir licença


Pixinguinha e Os Batutas na década de 20


Afro-brasileiros, euro-brasileiros, ameríndios?


É um problema pôr em campo algo que verse sobre etnicidade hoje em dia no Brasil. Criam-se melindres. Pisa-se em ovos. Recentemente uma interlocutora - que, de resto, nada tem de radical - protestou, numa roda de conversa, porque alguém disse a palavra "preto" ao invés de "negro".

"Preto", no entanto, é apenas como muitos brasileiros, especialmente os mais idosos, referem-se aos negros. "Preto", como termo, também é mais empregado hoje em dia no sul do Brasil. Não creio que retenha como designação em si qualquer volição de discriminar. Vinícius de Moraes reivindicava-se "o branco mais preto do Brasil". Caetano Veloso - que já é um sujeito idoso - dizia que antes de conhecer Vinícius pessoalmente pensava que ele fosse preto. Gilberto Gil, que foi nosso ministro da cultura, escolheu Preta como nome de uma de suas filhas.

De resto, no instante em que toda essa ridícula barafunda do politicamente correto estigmatizar um poema como "Irene" [ "Irene preta,/ Irene boa,/ Irene sempre de bom-humor."), a cultura brasileira passará seu atestado final de indigência.

Aliás, essa onda de dizermo-nos "afro-brasileiros" já passa recibo de muita coisa. Parece mais ou menos óbvio que a questão étnica precisa ser discutida com empenho, urgência e consequências práticas. Porém não copiando o modelo norte-americano. Não há algo que sequer passe perto de uma história comum no caso dos dois países mais populosos das Américas. Se houve escravidão em ambos, e os algodoais do Deep South semelham os canaviais do Nordeste, as dessemelhanças são imensamente mais sutis e complexas.

Em dias recentes, eles se regozijam da eleição de um presidente mestiço. Mas praticamente todos os nossos presidentes - à possível exceção de Geisel - eram mestiços. Aprendizados culturais não são imposições. Há boas sugestões recíprocas a se apreender. Não se pode, no entanto, "copiar" modelos de proceder. É preciso criá-los. E com esteios no passado comum.


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