sábado, 1 de novembro de 2008

O que não posso dizer, sou: Rich


Louis I. Kahn, 1964


In a Classroom

Talking of poetry, hauling the books
arm-full to the table where the heads
bend or gaze upward, listening, reading aloud,
talking of consonants, elision,
caught in the how, oblivious of why:
I look in your face, Jude,
neither frowning nor nodding,
opaque in the slant of dust-motes over the table:
a presence like a stone, if a stone were thinking.
What I cannot say, is me. For that I came.

Adrienne Rich


Em uma Sala de Aula

Ao falar de poesia, arrastando a pilha
de livros até a mesa onde as cabeças
curvam-se ou erguem-se, ouvindo, lendo em voz alta,
falando de consonantes, elipses,
apanhada no como, esquecida do porquê:
vejo seu rosto, Jude,
sem franzir ou menear,
opaco na través das linhas de pó sobre a mesa:
uma presença como pedra, se uma pedra pensasse.
O que não posso dizer, sou. Para isso vim.



Nota - sempre se fala da compressão do inglês como uma vantagem. Mas essa síntese nem sempre se dá. Não é um lei. Está longe de ser uma norma infalível. Notem que o português, do contrário, permite um momento de síntese que responde, talvez, pela passagem mais bela da tradução: "O que não posso dizer, sou". Esse verbo cujo sujeito se deduz apenas da flexão é uma das grandes vantagens do português. Esse verbo em si, é mais misterioso: ser. Essa não necessidade de se estar a repetir o pronome a cada vez empresta ao português um refinamento desconhecido em inglês. Adrienne Rich (1929), poeta americana, professora universitária, tem sido uma engajada defensora da causa lésbica, desde que assumiu, em tenra idade, essa opção sexual. Seu livro de estréia recebeu um prefácio elogioso de ninguém menos que W.H. Auden.

Nenhum comentário:

Postar um comentário