Fábio Lima, 2007 [Diário do Nordeste]
Os Sertões no Sertão
Há um ano, José Celso Martinez e seu Teatro Oficina desembarcaram de mala e cuia para uma pequena temporada no sertão profundo: Quixeramobim, interior do Ceará, terra de Antônio Vicente Mendes Maciel, o Conselheiro. O espetáculo, um épico com a duração de vários dias, girava em torno de uma adaptação teatral de Os Sertões, de Euclides da Cunha. Ontem, em tom de efeméride, o Diário do Nordeste destacou essa estadia do grupo paulista no Sertão Central.
A montagem dos cinco longuíssimos fragmentos que compunham a peça foi bastante onerosa, claro. E financiada pelo dinheiro público num estado pobre. Não quero entrar no mérito de se isso foi ou não lícito. Não disponho de elementos para tanto. Mas, de início, não soa lá muito razoável. Imagino também a experiência de "interação" entre sertanejos quixeramobinenses e atores paulistas de teatro de vanguarda. De resto, o que mais me chamou a atenção no conjunto de matérias não estava escrito. Trata-se de uma foto.
Nela se vê um abraço entre José Celso e Marcílio Maciel, sobrinho neto do Conselheiro. Raras vezes vi na vida abraço mais unilateral. Ou seja, Zé Celso abraça e Marcílio Maciel, um tanto, teso, deixa-se abraçar. Zé Celso ri, Maciel mantém a compostura séria do sertanejo. O braço de Zé Celso enrosca-se pelo pescoço do outro. A mão de Maciel pousa de leve sobre as costas do diretor de teatro.
De fato, a foto em si diz tudo. Indica que, mais de cem anos após o massacre de Canudos, o Brasil do Litoral – aqui representado por sua elite artística – ainda segue longe de conseguir conversar com o Brasil Profundo.
Ou seja, que o sertão ainda não virou praia. E vice-versa.
A montagem dos cinco longuíssimos fragmentos que compunham a peça foi bastante onerosa, claro. E financiada pelo dinheiro público num estado pobre. Não quero entrar no mérito de se isso foi ou não lícito. Não disponho de elementos para tanto. Mas, de início, não soa lá muito razoável. Imagino também a experiência de "interação" entre sertanejos quixeramobinenses e atores paulistas de teatro de vanguarda. De resto, o que mais me chamou a atenção no conjunto de matérias não estava escrito. Trata-se de uma foto.
Nela se vê um abraço entre José Celso e Marcílio Maciel, sobrinho neto do Conselheiro. Raras vezes vi na vida abraço mais unilateral. Ou seja, Zé Celso abraça e Marcílio Maciel, um tanto, teso, deixa-se abraçar. Zé Celso ri, Maciel mantém a compostura séria do sertanejo. O braço de Zé Celso enrosca-se pelo pescoço do outro. A mão de Maciel pousa de leve sobre as costas do diretor de teatro.
De fato, a foto em si diz tudo. Indica que, mais de cem anos após o massacre de Canudos, o Brasil do Litoral – aqui representado por sua elite artística – ainda segue longe de conseguir conversar com o Brasil Profundo.
Ou seja, que o sertão ainda não virou praia. E vice-versa.
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