sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Passionalidades e Putas


William Wegman, 1976


Giorggio & Francislene


Em verdade, não vejo problema algum com putas e gringos, desde que abusos, violências sejam exemplarmente punidos. Sabemos que não são. Ou então, que haja um mínimo de possibilidade de monitoramento sobre menores de idade ou das condições sanitárias. O que também não existe. É certo que o aspecto daqueles italianos de meia-idade e cabelos ralos, tingidos, ventres proeminentes sob camisetas coladas, passeando com jovens que poderiam ser netas deles causa algum asco. Mas também é um pouco estúpido que certos políticos, assumindo um tom de moralismo piegas, tentem capitalizar dividendos sobre a situação-açougue de Fortaleza. Ou de onde mais no Brasil, no planeta. Enquanto isso a menina desfila à beira-mar, braços dados a seu sugar-daddy. Houve delas que escreveram livros bem elaborados. Na França do sec. XVIII, por exemplo. Não vai se extinguir fácil, desde que a população - michês incluídos - não tenha o que comer ou onde se pós-graduar. Isso é certo como dois e dois. A profissão é ancestral. E, dependendo da profissional, parece ser bastante respeitável. Cá em Fortaleza até na pós-graduação há putas e michês. Gente que paga a sua formação com o aluguel do corpo. Converse com dez mulheres em Fortaleza. E pelo menos umas três (vá lá, umas quatro) dirão que casaram para escapar de algo: da tirania dos pais, da pobreza, da classe-média baixa (esse conceito que recende a má emenda de soneto), etc. O problema é bem outro. E, no entanto, há classe-média baixa com impecável capacidade de compostura. Há gente que pega no pesado. Comuta de ônibus nos terminais, mas não deixa um dedo arrastar sobre a epiderme em troca de um punhado de euros. Como pode ser? Talvez concretamente, numa determinada dimensão da vida, pensem, não há classes. Classe altas, baixas, médias, médias-baixas. Castas. Há a consciência absoluta, verdadeiramente moral, não relativa ou graduável de cada um. O arbítrio da escolha. Algo que se aparta do coletivo. Apenas, no caso, a consciência da maioria que escreve sobre a questão da prostituição em Fortaleza, inexcedivelmente egoísta e auto-centrada como costuma ser, profundamente mimada e paroquial, lamenta apenas que a prostituição haja abiscoitado o espaço, por excelência, da boêmia juvenil: a Praia de Iracema. Se fosse não na Praia de Iracema mas no Pirambu, na Barra do Ceará, na Praia do Futuro - epa, aqui durante à noite, não durante o dia - para os que escrevem sobre a questão, seria indiferente. Es ist egal.

E só.

Nenhum comentário:

Postar um comentário