quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Nos trinques, como manda o figurino: Riding


[s/i/c]


In Due Form


I do not doubt you.

I know you love me.

It is a fact of your indoor face,

A true fancy of your muscularity.

Your step is confident.

Your look is thorough.

Your stay-beside-me is a pillow

To roll over on

And sleep as on my own upon.


But make me a statement

In due form on endless foolscap

Witnessed before a notary

And sent by post, registered,

To be signed for on receipt

And opened under oath to believe;

An antique paper missing from my strong-box,

A bond to clutch when hail tortures the chimney

And lightning circles redder round the city,

And your brisk step and thorough look

Are gallant but uncircumstantial,

And not mentionable in a doom-book


Laura Riding



Na Forma Devida


De você não duvido.

Sei que me ama.

É fato no interno de seu rosto,

Real marca de musculosidade.

Seu passo é confiante.

Sua aparência, cabal.

O ficar-junto-a-mim, um travesseiro

Para bolar por cima

E adormecer como no meu, acima.


Mas faça-me uma declaração

Na forma devida em ofício volumoso

Testemunhada pelo notário

E remetida pelos correios, registrada,

Para ser assinada em recibo

E aberta sob juramento de palavra;

Um gasto papel em falta no meu velho cofre-forte,

Um arrimo para agarrar quando o granizo açoitar a chaminé

E círculos rubros propagarem-se por onde cidade é,

E teu passo firme e aparência audaz,

Surgirem galantes mas incircunstantes,

Não figuráveis em relatos de juízos-finais.




Nota - muito boa ironia neste poema. Especialmente na linha que refere ao cofre-forte, com todas suas implicações sexuais. As garantias legais de que se cerca a suposta pretendida parecem, no fim, soar como um inventário de pequenas sandices e convenções sociais. Além, claro, de carregar nos estereótipos, na caricatura: o homem, quase um super-homem; a mulher em casa, durante uma tempestade de granizo, satisfeita de ao menos possuir o documento que comprova o contrato entre ela e o macho onipotente, que é também seu arrimo, literalmente "travesseiro". De poemas assim, pode-se dizer que provem de um feminismo saudável. Até porque auto-derrisório. E não daquela histeria menos luminosa encontrada em certos departamentos de gender-studies por esse mundo afora. Digamos que pode-se imaginar isto sendo escrito por uma daquelas secretárias de detetives em filmes noir dos 40 e 50 - cujas tramas intrincadas radicam em Chandler ou Hamemtt. Belas moças atrapalhadas por óculos e sentadas à máquina de datilografar em ante-salas permanentemente enfumaçadas. As mesmas que acabam se envolvendo com tipos misóginos - que tanto podem ser os próprios detetives quanto os vilões (pois, de resto, a diferença entre ambos, em certos casos, é tão extensa quanto a distância de São Paulo a Diadema). Essa estranha necessidade, um tanto jurídica, de tomar o amor pelo contrato. De subsumir o amor no ofício.


2 comentários:

  1. Ah, que coisa boa ler isso aqui! Gosto tanto da Laura- mas isso já disse antes. O que eu não disse é que essa tradução ficou excelente, bem melhor do que uma outra que tentei fazer- sem resultado, óbvio!
    Tks! ;)

    Beijos,
    Carol.

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  2. carol,

    com leitores como v. me mandando essas maravilhas, nunca foi tão fácil voar.

    obrigado pelo elogio. e quem ñ precisa deles também?

    bjs.

    ruy

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