sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Não há trocos, só vinganças


Sam Peckimpah, The Wild Bunch, 1969


Conto escrito enquanto entornava uma cerveja em lata


Recostados ao balcão, servidos por um taverneiro de chapéu sem aba, disse o bufão para o ladrão:

–Onde estás a fazer a pós-graduação?

Retrucou o ladrão:

–Na mesma escola em que a tua mãe te concebeu.

–Ao que eu saiba, como primogênito, meus pais passaram a lua-de-mel no Hotel Y., em Memphis. Foi em 67, acho – contrarrestou o Bufão com um riso agastado e, algo, zombeteiro.

–Antes do Hotel Y. ir à bancarrota, assaltei-o em três turnos – disse o ladrão. Depois, jogou um dólar ao taverneiro – sem troco, como de uso. No Oeste, como nas pós-graduações não há troco, só vinganças (a diferença é que até mesmo os ladrões pagam seus tragos). Aprumou o revólver no coldre, e, com o palito ainda cravado entre os dentes flavos de fumo, saiu do saloon. Seu bando segui-o à conta-gotas e reverente distância.

Atrás deles, as meias-bandas ao limiar restaram oscilando; e era possível, cada vez menos, entrever por elas o redemunho na rua galopada pelos rocins. Até que, por fim, tudo se voltou para dentro de novo.

Como as ruminações do Bufão curioso.



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