sábado, 3 de janeiro de 2009

Eu pergunto ao passarinho, blackbird, assum-preto: McCartney


[s/i/c]




Blackbird


Blackbird singing in the dead of night.
Take these broken wings and learn to fly,

All your life

You were only waiting for this moment to arise.


Blackbird singing in the dead of night,
Take these sunken eyes and learn to see,

All your life

You were only waiting for this moment to be free.


Blackbird fly blackbird fly

Into the light of the dark black night.

Blackbird fly blackbird fly

Into the light of the dark black night.


Blackbird singing in the dead of night,
Take these broken wings and learn to fly,

All your life

You were only waiting for this moment to arise,

You were only waiting for this moment to arise,

You were only waiting for this moment to arise.


Paul McCartney



Melro


Melro chilreando na noite calada,
Toma como tuas estas asas quebradas,

Toda a vida,

Só sonhavas com este momento de partida.


Melro chilreando na noite calada,
Toma estes fundos olhos e descobre o ver,

Toda vida,

Tu só aguardavas este afã de livre ser.


Melro voa, melro voa

Por entre a luz dessa noite à toa.


Melro chilreando na noite calada,
Toma como tuas estas asas quebradas,

Toda a vida,

Só sonhavas com este momento de partida,

Só sonhavas com este momento de partida,

Só sonhavas com este momento de partida.





Nota- como todo bom beatlemaníaco sabe, apesar dos créditos para Lennon e McCartney, até mesmo um lennonista (como eu) sabe que esta composição (letra e música) é apenas de Paul McCartney, embora por razões de contrato ela seja também creditada a John. Isto segue com a ressalva de que muita coisa só de Lennon é também atribuída a McCartney em parceria, como “Dear Prudence”, “Happiness is Warm Gun”, “Across the Universe”, “Julia” e tantas outras (a maior delas, sem dúvida: “Strawberry Fields Forever”). Aqui, desprezando meu método tradicional de traduzir letras, pensei a fundo na melodia da canção. E, pelo menos metricamente, a versão em português funciona na música. Verdade que ficou um tanto rígida, mas nem tão ruim assim. Já vi versões piores. Gravadas inclusive. “Blackbird” sempre foi uma de minhas canções favoritas. E, lá, lá bem nas priscas eras da adolescência musical, senti-me resolutamente orgulhoso quando aprendi a tocá-la. Tucídides fala de seu registro como historiador da Guerra do Peloponeso nos termos de “uma aquisição para sempre”. Quando aprendi a tocar “Blackbird” sabia que havia chegado a uma dessas “aquisições para sempre”. A única coisa com a qual não me conformo na versão acima é o verso "toma estes olhos vazados e descobre o ver" não soar pelo menos tão bem quanto o que lá está (embora, ressalve-se, funciona). Sim, porque é tão óbvia a ligação entre o "Blackbird" de McCartney e o "Assum Preto" da letra do cearense Humberto Teixeira para a célebre canção de Luiz Gonzaga. [Nota: e isto sem um saber da existência do outro. "Assum-Preto" é, no entanto, anterior a "Blackbird"]. Em "Velha Roupa Colorida", Belchior brinca um pouco com isto e vai mais além, incluindo o corvo de Poe na ciranda, quando diz: "Como Poe, poeta louco americano/Eu pergunto ao passarinho:/ Blackbird, assum-preto, o que se faz [...]". Como "Poe" tem a mesma pronúncia de "Paul", ele não só está citando o autor de "The Raven" ["O Corvo"] como também Paul McCartney. Nem todos se dão conta disto, no entanto. Talvez chilrear seja um verbo que definitivamente está proscrito para letras de música. Nesta versão, no então, ele reproduz o "r" gutural que também se faz presente em "melro". O blackbird [melro] é um passarinho muito comum na Inglaterra. E não pude deixar de lembrar da música quando os vi, pela primeira vez, nos amplos parques do campus da Universidade de Warwick, onde residi, em alojamento, por alguns meses. Esta canção foi extensamente regravada. Há covers e mais covers. No entanto, a melhor versão é mesma a original: Paul ao violão acústrico [um Martin, estilo folk], marcando os compassos com um pé de metrônomo. E só. Das versões, uma que se destaca é a de Crosby, Stills & Nash - que, convenhamos, sabem urdir harmonias vocais como poucos [como Brian Wilson ou os Beach Boys, por exemplo].

3 comentários:

  1. ruy, falando em harmonias vocais..
    vc já escutou a faixa original dos vocais de wouldn't it be nice antes de montarem a música?
    é linda!

    mariana

    ResponderExcluir
  2. olá, mariana,

    'wouldn't be nice' é a abertura de um dos discos mais perfeitos da música pop: 'pet sounds'. lembro de na minha edição de 'pet sounds',q. foi comprada na alemanha, haver um faixa bônus só com o ensaio breve de uns vocais. mas ñ deve ser essa faixa q. v. menciona. é? e v., estuda música, está envolvida com música de alguma forma?

    grato pela leitura.

    bjs.

    ruy

    ResponderExcluir
  3. Olá Ruy.

    Topei com seu blog numa pesquisa pelo google. É que faço parte de um grupo de leituras que discutirá no final do mês "O corvo", do Poe.
    Eu sabia da música do Belchior, mas não dessa dos Beatles, que é uma referência cruzada, digamos assim. Obrigado pela informação.

    Se você souber mais coisas sobre esses pássaros pretos, poderia me mandar um e-mail? O endereço é: ailtonmaa79@yahoo.com.br

    ResponderExcluir