[s/i/c]
Places, Loved Ones
No, I have never found
The place where I could say
This is my proper ground,
Here I shall stay;
Nor met that special one
Who has an instant claim
On everything I own
Down to my name;
To find such seems to prove
You want no choice in where
To build, or whom to love;
You ask them to bear
You off irrevocably,
So that it's not your fault
Should the town turn dreary,
The girl a dolt.
Yet, having missed them, you're
Bound, none the less, to act
As if what you settled for
Mashed you, in fact;
And wiser to keep away
From thinking you still might trace
Uncalled-for to this day
Your person, your place.
Philip Larkin
Lugares, Amores
Não, não achei jamais
O lugar de dizer feito lei,
Este enfim me apraz,
É neste que ficarei;
Nem encontrei aquela tenaz
De apelo primeiro
A tudo que gosto mais:
O nome, o roteiro;
Isso talvez vem comprovar
Que não se tem opção
De onde construir, a quem amar;
Deles se busca, então
Uma distância regulamentar,
Assim que falha tua não
será, se a cidade te entediar
E à moça em lassidão.
Mas, ao se sentir lesado,
por ambos, tende-se a atuar
como se o resultado
dessa falta, pudesse achacar
a gente um bocado;
Mas, também, te poupar
De ficar chovendo no molhado,
Sempre atrás de achar
Teu par, teu cercado.
Nota – talvez nenhum poema me haja dado tanto trabalho para traduzir até aqui do que este. Briguei por ele como Jacó brigou com o anjo. Uma noite inteira de golpes e contragolpes. Saí coxo de uma perna. E por uma razão simples: a sofisticação do modo como a fala está estilizada. E, logo, se tem de achar soluções de métrica e rima num espaço muito rarefeito. Notem que a versão em português às vezes derrapa ligeiramente – mas só ligeiramente – do sentido original do poema. E, no entanto, algo muito mais precioso é salvo: o tom. A briga maior foi a batalha por ajustar as palavras ao tom. A primeira coisa que um tradutor deve sentir é o tom geral de um poema. E essa tarefa é tão intuitiva quanto “achar” o tom inicial, predominante, em um poema, que se está escrevendo no seu idioma de origem. [quer dizer, no único que você possui; e que, no caso, é o ponto de chegada da tradução: a última estação da viagem da tradução, cujo ponto de partida é o original]. O tom é de onde se parte para traduzir. Se você é um leitor experiente ou, por alguma razão, com algo a mais (ou a menos), dentro de teu ouvido interno, o da mente, que te sopra o tom dentro do silêncio da leitura, tanto melhor. Porque tradução é uma sorte de ventriloquia. Dar voz a palavra que é muda, sem articulação, para aqueles que não possuem a proficiência de ler o poema no original. É evidente que essa proficiência é bastante matizada. Conheço gente de grande fluência no inglês e, ainda assim, completamente incapaz de entender um poema ou chegar aos domínios do tom. Ou ainda de se lançar ao jogo da tradução com razoável brio ou desembaraço. E, aqui, é evidente que, no início, como em qualquer área, se apanha um bocado até conseguir um certo equilíbrio de feição. Só que, ao contrário de outras áreas, se vai sempre estar mais vulnerável a equívocos. E o resultado final sempre se prestará mais à contestação e ao descrédito. Eis porque traduzir ensina tanto como exercício. Inclusive no plano de uma ética [não gosto dessa palavra, mas não me ocorre outra] individual da escrita ou da vida. Devo ainda acrescentar que, só aos poucos, muito a conta-gotas, fui começando a gostar – e entendendo o porquê do sabor e desse gosto – da poesia de Larkin. Noves fora, me eduquei para apreciar autores bem diferentes. Autores de vanguarda. E consigo apreciá-los até hoje, mas também perceber as concessões que fizeram ao instante para serem “aceitos”. E separar o trigo do joio. E ficar com o suficiente para fazer o pão nosso de cada dia. Em geral, autores norte-americanos, na linha de Olson ou Creeley, e outros no entorno; vinculados ou próximos do que se convencionou chamar de Black Mountain Poets. Contemporâneos dos beats, com algumas preocupações e assuntos comuns aos beats, porém mais obcecados pela questão da forma em poesia – que, no fim, é a grande questão. No entanto, hoje, dimensiono o quanto um autor tão desdenhoso diante de vanguardas, modas e glamour, como Larkin, tanto me diz. Tem um apelo muito próprio. E, mesmo, talvez até maior do que os de vanguarda. E a razão é simples: beleza. A beleza, no fim, é honesta. Mesmo quando dita por um solteirão careca, reacionário, misantropo, racista, um tanto xenófobo, tomando conta de um biblioteca na provinciana e modorrenta e nada atraente cidade de Hull. Ora, a poesia só até determinado ponto - e um ponto muito, muito sem importância - pode ser amarrada ao poeta, enquanto biografia, existência e presença; personalidade ou caráter. Villon, Dante, Pound estavam longe, bem longe de ser flor-de-cheiro no plano pessoal. Mas a poesia deles exala fragrâncias. É muito assim com Larkin. É absolutamente admirável seu senso de honestidade em poesia. Que ele tenha sido um velho tarado ou um inglês que desprezava tudo que não era de seu país - a exceção do jazz estilo New Orleans - são outros quinhentos. Matéria para anedota e biografia. Sua poesia, do contrário, é creme. Em suma, é aquela coisa: qual o sentido de se escrever poesia - um dos exercícios mais livres para imaginação, se se é limitado sectariamente por divisões arbitrárias de escolas, teorias mais (ou menos) em voga, convicções políticas pessoais? De outro modo, é o "reacionário" Larkin o primeiro grande poeta de língua inglesa a escrever coisas como: "They fuck you up, your mum and dad" ["Eles te fodem, teus dignos pais"], [AQUI]. Coisas que fazem - também pelo modo como seguem expressas - a vontade de contestação dos beats parecer brincadeira de criança.
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