terça-feira, 6 de janeiro de 2009

For Thine Is The Kingdom


[s/i/c]



A Variedade do Uno

Hoje em dia é praxe se ler ensaios em que um bom argumento é estragado por uma única má-idéia [afinal, o que não nos faltam são idéias (o ponto, aqui, não é ter idéias, não é criar conceitos, como quer Deleuze, mas ter boas-idéias, mas criar bons conceitos). Nosso imenso estoque delas segue, infelizmente, na mesma proporção de aderirmos a elas com o entusiasmo que o neófito segura na mão de Deus e vai; acredita em duendes; põe no centro de sua vida o yôga; usa-as só para referendar sua tese ou seu artigo acadêmico; apaixona-se por um livro de divindades africanas ou por um relato budista; ou pelo próprio corpo; ou se entrega à nova droga em voga]. Do contrário, num dos poemas que consolidam o Ocidente, o de Dante, toda idéia é a mesma idéia. Só há uma idéia. Uma idéia dita de diferentes modos. Essa idéia nos conduz, como peregrinos para o reino da transparência. Em transparência e nitidez enxergamos como através de óculos nenhuns ou de nenhuma água límpida nos é dado enxergar hoje em dia. Ao método de Dante – que põe em verso a filosofia de Tomás de Aquino, entre outras coisas – chamamos de alegoria. Um reino da representação do qual fomos banidos desde o Renascimento. Espíritos finos – de esquerda, de centro, de direita, mas todos pontas-de-lança e não volantes de contenção – como Auerbach, Benjamin, T. S. Eliot, Huizinga ou Étienne Gilson lamentam que seja assim. Foi a perda desta idéia - a única viável - que nos lançou à construção confusa deste miserável mundo novo.




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