terça-feira, 27 de março de 2007

Quando piso em folhas secas: Derek Mahon




Leaves

The prisoners of infinite choice
Have built their house
In a field below the woods
And are at peace,

It is autumn, and dead leaves
On their way to the river
Scratch like birds at the windows
Or tick on the road.

Somewhere there is an afterlife
Of dead leaves,
A stadium filled with infinite
Rustling and sighing.

Somewhere in the heaven
Of lost futures
The lives we might have led
Have found their own fulfilment.

Derek Mahon


Folhas

Os prisioneiros da infinita escolha
Construíram suas casas
Num campo sob a mata
E estão em paz.

É outono, e as folhas mortas
Em seu caminho para o rio
Arranham como pássaros às janelas
Ou pulsam na estrada.

Algures há uma sobrevida
De folhas mortas,
Um estádio lotado de infinitos
Sussurros e suspiros.

Algures no horizonte
De extintos futuros
As vidas que podíamos ter levado
Encontraram seu próprio destino.

2 comentários:

  1. Belíssimo poema.
    As estradas que não tomamos nos cansam mais.

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  2. é, ludovico, ñ sei exatamente se nos cansam mais. certamente, fornecem um contraponto à nossa condição real. e, tomadas em dosas homeopáticas, talvez aliviem um pouco a intransitividade dos dias. aliás, como, de uma ou de outra forma, a poesia oferece este contraponto, saudável, à realidade em si. hans jonas, que era um poeta judeu alemão, qdo. estava internado em um campo de concentração, achava a vida quase insuportável. é claro, ninguém pode viver muito tempo numa situação em que a reserva de esperança é praticamente nenhuma: "havia realidade em excesso", dizia jonas. ou seja, não dava pra ter opções, para sonhar, dimensionar um futuro. talvez o q. mahon diga neste poema seja o contrário. ou seja, sonhar demais leva a ser prisioneiro da infinita escolha, etc.

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