terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Pranto condensado em densos, doces, cílios: Hadfield


Joe Tilson, 1977




Canis Minor


-A poet? You should write a nice poem about my dog

A poem's no lapdog:

he's dry, bisects the gravel road

like a little headstone.

His tongue erupts from his head

and lithifies. Pumices his butt

and exfoliates my elbow.

I'm reading this book about the cane-fields:

they believed if a slave looked you in the eye

you'd die. He winks at me and blinks

at me, falls back on his haunches

like a telescope, trained

on Procyon and rising Gemini.


Jen Hadfield



Cão Menor


–Uma poeta? Devia escrever um belo poema sobre meu cão

Um poema não é um lapdog:

é seco, bissecta a via de calçamento

como uma pequena lápide.

Sua língua emerge da cabeça

e litifica-se. Pomifica os couros

e esfolia-me o cotovelo.

Ando lendo esse livro sobre canaviais:

Crêem que se um escravo te olhar no olho

Te mata. Ele meneia para mim

e pisca, recai sobre as ancas

como um telescópio, versado

em Prócion e criando Gêmeos.




* * *



Five Thirty Sixish


Day in day out this land is chafed by light

'til five thirty sixish,

it's bald as old sandpaper, showing its hide.


So make the most of loneliness. Hang

your head to one side like a sainted donkey,

tears crystallised on dense sweetheart lashes,


hang your head like a kid in a tree-fort

hearing her weird name called and called

it might be towhee, towhee, across the evening,


hang your head and squinting, sing,

old english ballads about bewildering

betrayals, murder and burgundy,


down in the willow garden.


Jen Hadfield



Cinco e Trinta e Séxima


Dia sim, dia não, esta terra é batida de luz

até cinco e trinta e séxima,

calva como lixa velha, exibindo o capuz.


Então, aproveite bem a solidão. Deite

a cabeça para o lado, como beatífico burro,

pranto condensado em densos, doces cílios,


deite a cabeça como criança numa casa-de-árvore

ao ouvir seu nome fatal ser chamado e chamado

como tentilhão, tentilhão, noite adentro,


solte o pescoço e zarolhando, cante,

velhas baladas inglesas sobre encantes,

traições, assassinos e borgonhas,


pelo jardim dos salgueiros.







Nota – a poeta Jen Hadfield (1978) ganhou anteontem, 11 de janeiro, o prestigioso prêmio T. S. Eliot de poesia, na sua edição de 2009, por seu livro Nigh-No-Place [Rente-a-Nenhures]. O prêmio já foi atribuído a nomes como Seamus Heaney, Ted Hughes, Paul Muldoon e Hugo Williams. Apesar de ser inglesa, de Cheshire, Hadfield morou alguns anos no Canadá e vive atualmente na Ilhas Shetland [arquipélago no extremo norte da Escócia]. Atribui-se a ela grande domínio no emprego de elementos da natureza em sua poesia. Em Nigh-No-Place, segundo volume de poemas de Hadfield, ela esboça uma comparação entre paisagens do Canadá e a inóspita natureza das Ilhas Shetland, cujo desolamento é quase polar. Hadfield é até aqui, entre todos os premiados pelo T.S. Eliot Prize, a mais jovem a recebê-lo. No primeiro poema, segundo verso, ela talvez haja buscado uma analogia entre lapdog [cachorro-de-colo] e o termo da informática laptop [computador-de-colo]. Na tradução, pusemos, um tanto artificialmente, lulu, que aponta, em português, para um cão pequeno, de colo, decorativo, como no contexto do poema.


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