terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Um profuso intrincado ritmo: Zukofsky


[s/i/c]



(A FRAGMENT)



And so till we have died
And grass with grass
Lie faceless as the grass

Grow sheathed with the grass.
Between our spines a hollow
The stillest sense will pass
Or weighted cloud will follow.

Louis Zukofsky



(UM FRAGMENTO)



E então até morrermos
E folha com folha
Jazer deformados feito folha

Viça embainhada em folha.
Entre nossas vértebras um vão
Onde o mais tranqüilo se recolha
Ou nuvens pesadas se farão.


Nota- traduzir Zukosfsky é quase sempre uma tarefa de alto risco. É difícil pressentir o que ele quer dizer de fato em seus poemas. Pode-se, no entanto, sentir a música. Uma versão deste breve poema, um tanto diversa da atual, publiquei originalmente na revista Zunái, de Claudio Daniel. Não parece exagerado o modo como certa feita George Oppen classificou Zukosfsky de "obscuro". De usar a "obscuridade como tática" em poesia. Os dois foram grandes amigos, mas à certa altura, na maturidade, sobreveio algum mal-estar. Oppen foi mais explícito em relação a situação e mandou um recado a Zukofsky num poema de seu último livro (Primitive, 1978):

if you want to say no say/ no if you want to say yes say yes in loyalty

se você quer dizer não diga/não se quer dizer sim diga sim com franqueza

Às vezes, desconfio que a chave para a leitura de Zukofsky seja algo análogo à dificuldade que alguns leitores sentem diante de, digamos, Guimarães Rosa. Com uma complicação a mais: o primeiro idioma de Zukofsky era o iídiche. Só depois ele aprendeu o inglês. Sobre o iídiche este belíssimo artigo de um crítico que nunca esteve entre os prediletos, Harold Bloom (ele próprio também um falante do iídiche), mas que, aqui, acerta a mão. Os três últimos parágrafos deste artigo, aliás, são de tirar lágrimas de pedras:

[http://www.nybooks.com/articles/22020]

Por fim, como recordação sentimental, lembro que o primeiro texto que traduzi do inglês foi um conto de Isaac Bashevis Singer, chamado Gimpel the Fool [Gimpel, o Tolo]. Isto no longínquo ano de 1984. Singer é uma espécie de Kafka em estado de inocência. Ora, na verdade o idioma original de Singer era o iídiche e, logo, essa minha tradução foi feita a partir da versão para o inglês - que, de resto, foi levada a cabo por ninguém menos que Saul Bellow. Singer é um narrador extraordinário. Com toda aquela indizível verve e leveza dos contadores de histórias de trancoso. Todo o dinâmico (e, algo, miniatural) mundo judaico da Europa Central - varrido do mapa por Hitler - assoma tão animado e cheio de cores em sua escrita. E, assim, sua escrita urde-se como uma arqueologia no melhor senso do termo. Ou seja, uma elegia. Mas, enfim, isto de digressões nos leva para o alto mar e nos deixa à deriva. Falávamos de Zukofsky, que tem em seu épico poema "A" o seu opus maximus. Um intrincado poema cheio de referências. Inclusive ao marxismo e à música de Bach. Contando, por vezes, com trechos que são transcrições musicais em partitura.


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