quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Três poetas-promessas de Pindorama


Elizabeth Murray, 1982



Pedra



É uma pedra.
Mas a maquie aborígine,
e a vista com tecidos –
ósseos, musculares, epiteliais –
e com lã e seda e cetim;
deixe que ela ultrapasse
a forma do casulo e do caracol.
Mais que para um molde ou fantoche,
dê a ela uma vida postiça:
alfabetize-a, andrógina e lasciva;
faça disso um exercício físico.
Contudo ela é seca – frígida – hostil
e se esquiva: sua origem mineral
quer ser definida pelo tempo.
Ela quer ser terra, areia
e alheia nada revela.
Ela se recompõe.
É uma pedra.

Nicollas Rannieri, MG


* * * * *


'Antes amasse'


Antes amasse

como os românticos amavam

as desolações marinhas.


Antes, não amor,

mas nostalgia atlântica.

Amor vai, porque é preciso que passe.

O passado esculpe nosso aspecto

e nos recurva

à eternidade.



Odorico Leal
, PI


* * * * *


Departure



A plataforma vazia

um fog indócil

Malas no

chão do trem e

mãos decepadas

acenavam para o nada

das janelas.

Queria sussurrar no

teu peito e cantar

aquela canção antiga

- palavras irresponsáveis -



Mas um apito insistente cegou

minha voz e,

kamikaze, dei-lhe a brancura das costas:

hic habitat felicitas



Rios afogando

o frágil rosto

convulso

trilhando caminhos

opostos aos teus.

(e era verão no sul).


Naquele trem minha

alma degelava,

líquida como chumbo.


Carol Marossi, SP
[Ana Carolina Marossi]



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