sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

A embalagem segue com o presente: Facetti


Germano Facetti, anos 60


Sobre um capista clássico


Tanta coisa cerca um livro. Coisa que quase nunca pensamos quando abrimos um e nos pomos absortos diante do texto. Mas, sabemos, um livro transcende em muito apenas o texto. Ele se propõe mais completo na medida em que como objeto também nos abastece com uma beleza que refrata a do texto. Diagramação, folha de rosto, tipo, capa, formato, entrelinhamento, largura das margens, eventuais ilustrações, etc.

Em língua portuguesa, sequer em tangência, temos algo análogo à Penguin Books inglesa. Livros de altíssima qualidade quanto à fixação do texto, prefácios, notas, etc. E, no entanto, impressos em papel barato. Brochura, paperback. Lembro-me de uma amigo que, certa feita, ao se dar conta de meus livros em inglês, nas prateleiras, perceber o quanto eles eram acanhados diante das opulentas edições da Cosac Naify ou da Companhia das Letras. O que o desconcertou, de certo modo. Mas conhecendo-o como o conhecia, não esperava reação mais diversa.

Essa é uma visão classemedista e um tanto de superfície. Os livros da Penguin contam entre os mais clássicos que possuo. Há neles menos pirotecnia visual e mais acomodação ao assunto junto com vontade de propagação desse assunto a preços acessíveis. Uma espécie de verdade mensurável pelo modesto rendendo o melhor possível. E isso é boa política editorial.

Não pouco dos atrativos desses livros da Penguin se devem, aliás à perícia de uma capista. Ele se chamava Germano Facetti (1926-2006). Facetti foi responsável por capas prismáticas da Penguin por mais ou menos uma década: do início dos 60 adiante. Os primeiros livros que comprei da Penguin ainda portavam o selo da perícia com que esse artista entendia dobrar seu valioso conteúdo e apor sobre ele uma sedutora embalagem. Uma embalagem que era, em verdade, o início da leitura do texto, tal sua conveniência e discreta beleza. Dentro desse senso, se pode achar em Facetti um digno herdeiro dos iluminuristas medievais, que são os mais ilustres antepassados dos designers gráficos contemporâneos.

Porque a embalagem, como sabemos, também segue com o presente. É parte daquela forma que se recusa a dissociar-se do conteúdo. E emerge, assim, como a única que verdadeiramente merece esse nome.



2 comentários:

  1. A L&PM Editores, de Porto Alegre, está no mesmo belo caminho da Penguin Books, com a sua coleção de Pocket Books, que já vai pra lá do número 700.
    Abraços,
    Sérgio

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  2. é verdade, sérgio. a l&pm é uma das raras excessões a confirmar a regra. aliás o catálogo de vs. está mto. bom, assim como também há uma boa acuidade gráfica para os pocket books. sinceros parabéns!

    abs.

    ruy

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