segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Obituário de Billie Holiday: O'Hara



The Day Lady Died


It is 12:20 in New York a Friday
three days after Bastille day, yes
it is 1959 and I go get a shoeshine
because I will get off the 4:19 in Easthampton
at 7:15 and then go straight to dinner
and I don't know the people who will feed me

I walk up the muggy street beginning to sun
and have a hamburger and a malted and buy
an ugly NEW WORLD WRITING to see what the poets
in Ghana are doing these days
I go on to the bank
and Miss Stillwagon (first name Linda I once heard)
doesn't even look up my balance for once in her life
and in the GOLDEN GRIFFIN I get a little Verlaine
for Patsy with drawings by Bonnard although I do
think of Hesiod, trans. Richmond Lattimore or
Brendan Behan's new play or Le Balcon or Les Nègres
of Genet, but I don't, I stick with Verlaine
after practically going to sleep with quandariness

and for Mike I just stroll into the PARK LANE
Liquor Store and ask for a bottle of Strega and
then I go back where I came from to 6th Avenue
and the tobacconist in the Ziegfeld Theatre and
casually ask for a carton of Gauloises and a carton
of Picayunes, and a NEW YORK POST with her face on it

and I am sweating a lot by now and thinking of
leaning on the john door in the 5 SPOT
while she whispered a song along the keyboard
to Mal Waldron and everyone and I stopped breathing

Frank O'Hara



O Dia em que a Dama Morreu


É 12:20 em Nova York, uma sexta
três dias depois da Queda da Bastilha, sim
é 1959 e ando atrás de um engraxate
porque vou desembarcar do 4:19 em Easthampton
às 7:15 e então vou logo jantar
e não conheço as pessoas que me darão de comer

Caminho pela rua mormacenta abrindo-se ao sol
peço um hambúguer e um maltado e compro
um horrendo NEW WORLD WRITING para ver o que
poetas em Ghana andam fazendo esses dias
vou ao banco
e a Senhora Stillwagon (primeiro nome Linda, ouvi uma vez)
sequer confere meu saldo pela primeira vez na vida
e no GOLDEN GRIFFIN consigo um Verlaine fino
para Patsy com desenhos de Bonnard, embora tenha
pensado em Hesíodo, trad. Richmond Lattimore, ou
a nova peça de Brendan Behan, ou Le Balcon ou Les Négres
de Genet, nada disso, insisto no Verlaine
depois de praticamente adormecer de dúvida

e só para Mike avanço pela loja de destilados da
PARK LANE e peço uma garrafa de Strega e
logo retorno de onde eu viera, 6ª Avenida
para a tabacaria do Teatro Ziegfeld e
casualmente peço um maço de Gauloises e um maço
de Picayunes e um NEW YORK POST com o rosto dela

e estou suando em bicas agora e pensando em
recostar-me ao pórtico do 5 SPOT
no que ela sussurrava uma canção para o pianista
Mal Waldron e eu e todo mundo parávamos de respirar





Nota: a alcunha de Billie Holiday nos Estados Unidos era Lady Day. O'Hara trocadilha com isto no título, promovendo uma inversão (The Day Lady Died, o que instala uma ambigüidade. Em inglês, o título pode ser lido como o título da tradução em português, mas também como A Dama do Dia Morreu, A Dona do Dia Morreu, A Senhora do Dia..., etc.). Note-se também a quantidade de referências à cultura estrangeira - sobretudo francesa - para, no fim, tudo convergir para este índice central da cultura americana: o jazz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário