Paul Klee, 1926
Easter
Rise heart; thy Lord is risen. Sing his praise
Without delayes,
Who takes thee by the hand, that thou likewise
With him mayst rise:
That, as his death calcined thee to dust,
His life may make thee gold, and much more just.
Awake, my lute, and struggle for thy part
With all thy art.
The crosse taught all wood to resound his name
Who bore the same.
His stretched sinews taught all strings, what key
Is best to celebrate this most high day.
Consort both heart and lute, and twist a song
Pleasant and long:
Or since all music is but three parts vied,
And multiplied;
O let thy blessed Spirit bear a part,
And make up our defects with his sweet art.
I got me flowers to straw thy way;
I got me boughs off many a tree:
But thou wast up by break of day,
And brought’st thy sweets along with thee.
The Sunne arising in the East,
Though he give light, and th’ East perfume;
If they should offer to contest
With thy arising, they presume.
Can there be any day but this,
Though many sunnes to shine endeavour?
We count three hundred, but we misse:
There is but one, and that one ever.
George Herbert
Páscoa
Acorda ser; teu Senhor acordou. Canta em louvor
A teu Senhor,
Que te traz à mão, para te ensinar
Junto a Ele acordar:
Assim se Sua morte reduziu-te a pó,
Sua vida far-te-á ouro ou ainda melhor.
Acorda guitarra, apressa-te por tua parte
Com toda arte.
A cruz ensinou a cada tábua Seu nome ressoar,
E por igual suportar.
Seus tendões partidos ensinaram às cordas que tom
É melhor para bem celebrar um dia tão bom.
Juntem-se ambos, ser e guitarra, e teçam uma canção
De boa duração.
E como a música está em três partes fracionada,
E multiplicada,
Ah, deixai Vosso Santo Espírito gestar uma delas,
E reparar nossos defeitos em Suas aquarelas.
Trouxe flores para forrar-Te o caminho
E ramos de árvores várias em abrigo,
Mas acordaste antes dos raios em arminho,
E trouxeste as fragrâncias junto contigo.
O sol sai a leste, sai todo dia
E entanto luz lance e bálsamo do leste;
Se dados fossem em analogia
Nada seriam frente ao que fizeste.
Que outro dia a este é soberano,
Ainda que plácido como um novilho?
Contamos trezentos, mas engano:
Como este há um só, e seu único brilho.
Nota- George Herbert (1593-1633) faz parte do que se acostumou a chamar de "poetas metafísicos" ingleses do sec. XVII. Era um dos favoritos de T. S. Eliot, ao lado de nomes como John Donne, Andrew Marvell, George Chapman, Robert Southwell e Henry Vaughan. Influenciados pelo neo-platonismo eram poetas de grande apuro formal e sutileza de argumentos. Prezavam o conceito, a símile e a metáfora rara. Marvell, em certa passagem compara a alma a uma gota de orvalho. Mas, por vezes, não eram tão metafísicos assim, como o jovem Donne. O rótulo 'metafísico', aliás, foi proposto no século seguinte por ninguém menos que Dr. Johnson. A tradução acima é bastante "livre" quanto à literalidade. Busca preservar o ritmo, as rimas e capturar o espírito geral desta sorte de canção. Um outro aspecto: algo que alguém -- um tradutor principlamente -- pode não se conformar é com a palavra -- tão extensa -- 'coração', em português. Em português arcaico era simplesmente 'cor' -- bem próximo do latim. De onde vem a palavra 'cordial'. Ou, curiosmente, a palavra 'cordeiro'. Ser cordial equivaleria ser manso como um cordeiro. Imagem recorrente no Novo Testamento. Os mansos de coração, que herdarão o Reino, etc. Na tradução deste poema, pensei em usar 'cor' [v.1, est.1] -- como nossos tataravós, os trovadores galego-portugueses, faziam. E nós ainda fazemos em expressões como "saber de cor" [=saber de coração, saber tão amorosamente que se traz no coração. No fundo, tem muito pouco a ver com "decorado", "decoreba", etc. -- pois o que sabemos de cor, sabemos por afeto e experiência]. Mas, enfim, preferi usar 'ser', pois 'cor' parece indicar 'cor', o fenômeno ótico de perceber, através da íris, a distinta tonalidade à superfície dos objetos e das formas .
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