quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Por não fazer mudança em seu costume: Garcilaso


El Greco




Soneto XXIII

En tanto que de rosa y azucena
se muestra la color en vuestro gesto,
y que vuestro mirar ardiente, honesto
enciende el corazón y lo refrena;
y en tanto que el cabello, que en la vena
del oro se escogió, con vuelo presto,
por el hermoso cuello blanco, enhiesto,
el viento mueve, esparce y desordena;
coged de vuestra alegre primavera
el dulce fruto, antes que el tiempo airado
cubra de nieve la hermosa cumbre.
Marchitará la rosa el viento helado,
todo lo mudará la edad ligera,
por no hacer mudanza en su costumbre.

Garcilaso de La Vega



Soneto XXIII

Enquanto de rosa e de açucena
se mostra a cor em vosso gesto,
e vosso olhar ardente, honesto
acende o coração e o ordena;
e enquanto o cabelo, que no veio
de ouro se escolheu, com vôo presto,
pelo formoso colo branco, testo
o vento move, esparsa, com enleio;
colhei de vossa alegre primavera
o doce fruto, antes que o tempo arredio
cubra de neve o delicado cume.
Marchetará a rosa o vento frio,
tudo mudará a idade que acelera
por não fazer mudança em seu costume.





Nota – Garcilaso de La Vega e Juan Boscán estavam introduzindo na Espanha as novas formas advindas da itália, no início do sec. XVI. Sobretudo o soneto ao modo de Petrarca. Era empresa semelhante à de Sá de Miranda em Portugal – depois ampliada e consolida por Camões. De la Vega, que morreu jovem, aos 35 anos, é o protótipo do homem renascentista: soldado e poeta. Foi uma das mais destacadas vozes do chamado Século de Ouro espanhol (secs. XVI e XVII). Em termos líricos, de La Vega é o equivante espanhol de Camões [embora, talvez, sem a mesma envergadura e versatilidade do português - e, claro, sem a abertura para o épico].

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