terça-feira, 27 de janeiro de 2009

De Glórias e Aterros


A área verde à esquerda dos prédios constitui o Aterro do Flamengo



A Pós-Moderna Geografia do Crítico de Poesia


Certo “crítico” de poesia brasileira – daquele tipo que encara a idéia de história com alguma vaga derrisão – deveria, no entanto, através da história, conhecer mais por onde pisa. O risco é acabar se molhando inteiro. Em artigo recente ele pontifica, aspas:

Certa leitura da poesia produzida no Brasil tende a uma espécie de padronização crítica “carioca” (sim, assim mesmo, entre aspas, claro), o que tende a uma repetição da geografia dos usos de Machado de Assis, algo entre a Glória e o Aterro, não tão mais longe que isso.

Fecha aspas. Uma repetição da geografia e dos usos de Machado de Assis, algo entre a Glória e o Aterro. Ok. O problema, aqui, é que Machado de Assis morreu em 1908, e o Aterro (diante da Praia do Flamengo – daí o nome de Aterro do Flamengo), foi construído ao longo da década de 50 e inaugurado em 1965: meio século e sete anos após a morte de Machado! Mas, talvez em espírito – quando, quem sabe haja escrito as Memórias Póstumas não de Brás Cubas, mas de si próprio – o Bruxo do Cosme Velho tenha vagado bastante entre a Glória e o Aterro. Já que, ao seu tempo, o Aterro era tão-só parte do imenso e bravio mar azul. E, ao que se sabe, entre os de carne e osso só Cristo conseguiu caminhar sobre as águas. Sem embargo, até onde nos chegam os registros, Machado era um espírito cético e um homem fino demais para arriscar molhar suas polainas nas ondas da Baía de Guanabara durante seus passeios da cidade para a orla.

Sobre o Aterro, aliás, uma de suas grandes entusiastas foi a companheira de Elisabeth Bishop, Lota de Macedo Soares. Há uma referência ao Aterro, ainda em construção, como "o Aterro de Lota" neste poema de Mark Strand, chamado "The Last Bus".




Nenhum comentário:

Postar um comentário