A área verde à esquerda dos prédios constitui o Aterro do Flamengo
A Pós-Moderna Geografia do Crítico de Poesia
Certo “crítico” de poesia brasileira – daquele tipo que encara a idéia de história com alguma vaga derrisão – deveria, no entanto, através da história, conhecer mais por onde pisa. O risco é acabar se molhando inteiro. Em artigo recente ele pontifica, aspas:
Certa leitura da poesia produzida no Brasil tende a uma espécie de padronização crítica “carioca” (sim, assim mesmo, entre aspas, claro), o que tende a uma repetição da geografia dos usos de Machado de Assis, algo entre a Glória e o Aterro, não tão mais longe que isso.
Fecha aspas. Uma repetição da geografia e dos usos de Machado de Assis, algo entre a Glória e o Aterro. Ok. O problema, aqui, é que Machado de Assis morreu em 1908, e o Aterro (diante da Praia do Flamengo – daí o nome de Aterro do Flamengo), foi construído ao longo da década de 50 e inaugurado em 1965: meio século e sete anos após a morte de Machado! Mas, talvez em espírito – quando, quem sabe haja escrito as Memórias Póstumas não de Brás Cubas, mas de si próprio – o Bruxo do Cosme Velho tenha vagado bastante entre a Glória e o Aterro. Já que, ao seu tempo, o Aterro era tão-só parte do imenso e bravio mar azul. E, ao que se sabe, entre os de carne e osso só Cristo conseguiu caminhar sobre as águas. Sem embargo, até onde nos chegam os registros, Machado era um espírito cético e um homem fino demais para arriscar molhar suas polainas nas ondas da Baía de Guanabara durante seus passeios da cidade para a orla.
Sobre o Aterro, aliás, uma de suas grandes entusiastas foi a companheira de Elisabeth Bishop, Lota de Macedo Soares. Há uma referência ao Aterro, ainda em construção, como "o Aterro de Lota" neste poema de Mark Strand, chamado "The Last Bus".
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