sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Avoir l’eau à la bouche

Gaetano Zampini, 1753

La tapioca au lait

Hoje, a exemplo de ontem, comprei tapioca do pregoeiro de grito longo e agônico. Ele vende tapioca, pamonha e cuscuz. Espertamente quis me cobrar a mais que ontem. Lembrei-lhe o preço. Num sobressalto, disse que estava cobrando pelo cuscuz. Mas, bem, no início mesmo desta semana, havia dito que os dois, cuscuz e tapioca, eram de mesmo preço.
Ladinices de lado, tenho plena consciência de que estou comprando tapiocas ao passado. A uma ocupação que confina a extinção. O exício mais absoluto. E sigo na inteira contramão da sofisticação dos gostos em Fortaleza.
De momento, degustam-se vinhos apenas razoáveis, cafés sofríveis, cervejas para o gasto em outras latitudes, sorvetes e confeitos um tanto inapropriados ao clima, à carne das frutas, à compleição das pessoas. Ou frutas importadas de terceira. Sabemos que tudo isso sobrevêm inflacionado. É vendido caro e sem aferição. E para consumidores ávidos por um selo de aprovação social.
De minha parte – como aquele francês que não passa sem ir à padaria de manhã e voltar com a bisnaga debaixo do sovaco – aprecio cada vez mais essa tapioca que passa gritando à domicílio, na vanguarda da manhã, pelas ruas da Piedade.


* * *

2 comentários:

  1. Tenho uma verdadeira e delicada paixão por tapiocas.Por aqui são bem raras e espero que não desapareçam por aí.Toda vez que ando pelos estados mais quentes e bonitos do país não deixo de degustar tal iguaria, que é muito melhor que qualquer outro produto, inventado ou copiado.

    ResponderExcluir
  2. tapioca é mesmo uma delícia, c.

    mas eu não diria que os estados mais quentes do país são os mais bonitos. há diversas belezas pedindo para serem notadas. e elas se suplementam na amazônia, no nordeste, no sul, em são paulo, no rio, etc. e, claro, tem coisas nada belas também por todo lado.

    obrigado, por mais esta leitura!

    ResponderExcluir