A Qualidade de Vida
o filho morrera ainda criança. a mulher chispara com um juiz. as veleidades musicais, represadas num álbum lançado ao tempo da graduação. roía-se o cotidiano por crises. longe da zoada dos botecos. os longos percursos não tornavam ao ponto. restou-lhe a amante.
a espera dela é que era leitmotiv. e por onde iam os filtros. o teste de sua paciência. fosse permitido recall no campo dos sentimentos, aplicaria para a reposição da paciência. e, quem sabe, com um novo kit – pouco importa a marca – pudesse fazer frente uma vez mais ao mundo.
e não como alguém que se permitiu em vida haver-se passado ao passado. porém como um executivo. ou ao menos um supervisor de trainees. e logo, num desses dias de espera por ela, sem chamadas, sem chance, tramado em sua furiosa oficina de lembranças, seguia trabalhando. inútil o afã de prosseguir o recadastramento. não eram poucos os imóveis que a firma geria no leste da cidade. por que parecia tão sem sentido fazer aquilo? e olha que era algo em demanda antes já das festas.
e assim, nos intervalos, levantava-se, ia até a porta. fumava. entrolhava pelas venezianas: a nesga de rua, carros passando na avenida, galhos de acácia morrendo de calor, calmaria nos vagares do verão. dias a reincidir uma semana vítrea. lisa. sem reentrâncias onde cravar pinos, na escalada para a inexorabilidade de um body-jumping libertador.
retrocedia. sentava diante do monitor. abria planilhas. fechava. nada se resolvia por meio delas.
no começo da noite, da calçada uma voz escamou a posta de trívias que encrostava o escritório. estremeceu. não era a voz dela. rogou que esperasse. vestiu uma camisa limpa. foi ao banheiro. penteou-se. pôs um pouco de loção após barba. acendeu a luz do vestíbulo que às vezes lhe servia de quarto.
no começo da noite, da calçada uma voz escamou a posta de trívias que encrostava o escritório. estremeceu. não era a voz dela. rogou que esperasse. vestiu uma camisa limpa. foi ao banheiro. penteou-se. pôs um pouco de loção após barba. acendeu a luz do vestíbulo que às vezes lhe servia de quarto.
eram duas mulheres na mesma penumbra.
enquanto a que estava diante dele falava, a outra era só mutismo e copas. conversaram breve. a que falava era jovem e bonita:
-então o senhor é corretor?
-sou, mas, vocês me desculpem, é que eu estou no meio de um trabalho, ocupado.
ela, ato contínuo, virou-se sobre a bolsa a tiracolo. de uma espécie de mostruário, sacou um folheto com certo embaraço. repassou a ele. e ele pode notar como os rostos crisparam-se no intervalar da conversa. delas, escoladas, experts nesse afazer de porta em porta, pensou. e voltou à escrivaninha. esfregou os olhos com força. desdobrou o folheto:
-sou, mas, vocês me desculpem, é que eu estou no meio de um trabalho, ocupado.
ela, ato contínuo, virou-se sobre a bolsa a tiracolo. de uma espécie de mostruário, sacou um folheto com certo embaraço. repassou a ele. e ele pode notar como os rostos crisparam-se no intervalar da conversa. delas, escoladas, experts nesse afazer de porta em porta, pensou. e voltou à escrivaninha. esfregou os olhos com força. desdobrou o folheto:
“o último livro da bíblia indica a qualidade de vida que você terá no paraíso”.
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