terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Alain de Botton e o Templo dos Ateus

Após bombardeio leitores retornam a uma biblioteca em Londres durante a II Guerra

A Catedral de São Judas 

Parece que os últimos filósofos decentes a versar sobre religião foram Pascal, Espinoza, Vico e Kierkegaard. Nietzsche e Schopenhauer são divertidos de ler, mas sabem a certa ressaca romântica, típica do séc. XIX. Ora, nem todo mundo é louco por Wagner; e, afora isso, Søren Kierkegaard bota ambos no bolso do casaco como se fossem lençinhos de rapé. É tão denso o dinamarquês, que o existencialismo já está lá. Mesmo que ao tempo de sua morte Nietzsche não tivesse mais que 11 anos. Simone Weil e Wittgenstein têm considerações para lá de interessantes, mas não muito sistemáticas. E de momento, um suíço radicado em Londres, Alain de Botton, filósofo e apresentador de televisão, lançou um livro paradoxal: Religião para Ateus: Um guia para Não-Crentes sobre as Utilidades da Religião. O livro de de Botton dificilmente acrescerá algo de mais belo, poético ou misterioso à Bíblia ou ao Corão, aos Upanishads ou ao Livro Tibetano dos Mortos do que o futebol de botão acrescenta ao seu correspondente de viva grama. Mas de Botton - ao que parece para confirmar o estereótipo do masoquismo suiço ou ainda legitimar sua estranha dualidade profissional - vai mais adiante e propõe um templo para ateus. Quer dizer, para ateus do bem. Ou seja, aqueles que respeitam as religiões históricas e constituídas. E, sabe-se lá, até emitem para elas energias positivas, sinais laicos de boa vontade ou seja lá o que isso for. Ou ao menos não as hostilizam tão abertamente, como é moda nos países pós-industriais. Ateus “diferentes”, portanto. Da nova era. Da Era de Aquarius? E, não menos importante, ateus sobretudo diferentes dos ímpios Richard Dawkins e Christopher Hitchens, que de Botton afunda no inferno do ateísmo ao acusá-los de serem péssimos ateus, pois cheios de má vontade, intolerância e falta de consideração (laica) para com o próximo ateu e para com o não próximo religioso. E excomunga a ambos das hostes do ateísmo. A espécie de catedral dos ateus - onde se pode adorar quem bem se entenda: Cristo, Buda, Iavé, Maomé, Clark Gable, Iemanjá, Freud, Sophia Loren, Ayrton Senna - já está com metade do investimento captado, segundo de Botton, que deve ter apertado lá seus botõezinhos para tirar tanta grana de ateus beneméritos em tempos de vacas um tanto anêmicas. De outro modo, de Botton descende de judeus sefardí e seu pai trabalhou para os Rothschild na Suíça. Quer dizer, de gerenciamento ele entende. E o templo começará a ser construído no final de 2013. Mesmo que a gente olhe de cá e se indague se não há outras prioridades no âmbito da União Europeia. A edificação será erguida em Londres, naturalmente. Agora, como é uma obra de vulto e ainda não tem nome, vai aqui uma sugestão:


CATEDRAL DE SÃO JUDAS ATEU


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2 comentários:

  1. Ri-me a valer. Há uma lógica em momentos ilógicos. E tudo avança em trama muito conseguida.

    Beijinhos,

    Ana Esmeralda

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  2. oi, ana. bacana que haja gostado. obrigado pela leitura. see you 'round.

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