terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Reportagem e decência


Georges Seurat, Place de la Concorde, l'hiver, 1883

Walser

Esta semana, li alguma coisa de e sobre Robert Walser que não fosse o esplêndido ensaio de Benjamin. Fiquei tão impressionado com ambos os aspectos – o homem, o escritor, a estranha qualidade de sua modéstia, a inexorabilidade das misérias que experimentou, o humor, o talento, a perfeita inabilidade social – que escrevi a postagem “Não para escrever”, logo mais abaixo.
Ele passou seus últimos anos – décadas, em verdade – num asilo, visitado apenas por uns poucos amigos. E isso, depois de haver sido um escritor de relativo sucesso na Alemanha – Kafka e Benjamin o apreciavam – onde viveu durante algum tempo para, então, retornar à Suíça. Aguardava-lhe uma vida modesta e desimportante em cômodos de aluguel e ostracismo social. E depois o asilo.
Além de escrever, a lápis, celeremente, sem revisar nunca, ele gostava de caminhar. E foi numa caminhada, no Dia de Natal de 1956, um dia gelado, que ele aparentemente perdeu o rumo.
Quando encontraram o corpo de Walser, estava congelado. Fotografias de um senhor de idade com a mandíbula aberta, imóvel, foram feitas. E impiamente estampadas em diversos jornais europeus. De fato, tem coisas que nos fazem recordar: somos humanos. E de um jeito terrível. Ou dos perigosos limites entre a reportagem, a decência.
Numa situação dessas, quem morre congelado na frieza de sua própria descompostura não é o jornalista? Não é o jornalismo?


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