segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Il dolce far lentamente e alguns filmes futuros


Bela Tarr, The Turin Horse, 2011



Queira ou não, Keira

Ah, essa doce pasmaceira de proa de ano. E vai ser assim até o Carnaval. Tudo segue em câmera devagar quase parando. Rima com suor, calor. Trópico. Aqueles ventiladores de espantar mosquito em filme americano. Até os calangos esquecem de copular. E há um aviso escrito na testa da tarde: proibido ter pressa. Todo mundo obedece que é uma beleza. Só a roupa, quieta no varal, seca mais rápido. E as lojas de ar-condicionado faturam alto. É acaso que os policiais tenham entrado em greve justo neste quadrante? E quem mais trabalha a sério, além dos dermatologistas, das babás e das putas? Todo mundo com freio de mão ligado, mais ouvinte, espectador. Mais amante?

Este ano há muita coisa no pré-horizonte. Talvez Lana Del Rey converta-se na nova Lady Gaga. Walter Salles deve lançar sua adaptação de On the Road. 

Uma nova refilmagem de O Grande Gatsby traz Carey Mulligan e DiCaprio -- quem diria, Jay Gatsby acabar como DiCaprio! Mulligan, que será a volátil Daisy, é daquela estirpe de atrizes inglesas super talentosas, que Hollywood adora. Mas será bem ao final do ano, segundo alguns. Ou apenas em 2013, segundo outros. Antes, muito filme (mas pouco cinema) vai rolar. Há novidades dos irmãos Coen (refilmagem de Gambit), Tarantino (Django Unchained) e Werner Herzog (Into the Abyss). Uma adaptação de Anna Karenina, o romance de Tolstói que, queira ou não queira, rende filmes xaropes. Desta vez é queira, pois Keira Knightley faz a heroína. O que indica que a próxima será não Keira. E há essa tolice (Lincoln: Vampire Hunter) em que o presidente Lincoln aparece caçando vampiros nas imediações (na Caucaia, vá lá) de Nova Orleans. Mas ao menos a produção traz a bela Mary Elisabeth Winstead. E depois, também pelos inícios de 2013, uma versão mais épica do presidente abolicionista por Spielberg (Lincoln). Novos Homem-Aranha (The Amazing Spider Man) e Batman (The Dark Knight Rises) para quem gosta de aracnídeos e morcegos. Anne Hathway que, convenhamos, é bem mais interessante que ambos, será a Mulher-Gato em Batman -- o que, reconvenhamos, já é uma baita duma redundância. Uma Branca de Neve, branca de novo, novinha em folha, lavada em Omo, na qual Charlize Theron faz a Rainha Má -- pelo menos isso -- virá à luz de Lumière. Rainhazinha Má que desde Disney tem seu valor. E que, desde sempre, em inglês, toda criança conhece como Queen Ravenna. Há um thriller policial turco, dirigido pelo mestre Nuri Bilge Ceylan que se intitula Era Uma Vez na Anatólia (Once Upon a Time in Anatolia), para quem curte um cinema mais rarefeito, em salas de arte. Um filme estranho, de bela fotografia e muitos tempos mortos é The Turin Horse, de  Bela Tarr, o intrigante diretor húngaro, cujo Tango de Satã (Sátántangó, 1994) é apontado como obra-prima pelo remodernismo - seja lá o que isso importa para um filme de mais de sete horas. Também para sessões de arte. Ou nem isso. O filme percorreu a Europa ano passado. E ainda não se sabe se será exibido aqui. [Este filme pode, curiosamente, ser posto em perspectiva junto ao Dias de Nietzsche em Turim (2001) de Júlio Bressane]. Uma superprodução (Black Gold) ambientada no Oriente Médio à época do boom do petróleo, sob a direção de Jean-Jacques Annaud, tem  todo o jeitão de entrar para a lista do Oscar. Sacha Baron Cohen, o popular Borat, viverá um sanguinário tirano na comédia The Dictator -- filme "vendido" como livre adaptação do livro de um certo Saddam Hussein. (Mas do que adianta, se ele continuará a ser Borat?). No departamento de desenhos, a grande produção em 3D chama-se Brave. É a história de uma bela princesinha ruiva das Highlands escocesas,  que desafia velhas tradições e acende a revolta. Um novo thriller (Skyfall) do espião com licença para matar com o bom ator -- mas inconvincente 007 -- Daniel Craig. Woody Allen, que já passou por Barcelona e Paris, este ano chega a Roma (Nero Fiddled). Ainda no campo das adaptações, Cosmopolis leva o título do romance homônimo de Don DeLillo -- e então imagine algo grandioso e medonho como uma resposta contemporânea ao Ulysses joyceano. Como se isso fosse, sendo muito complacente, possível. 

Estes são alguns dos filmes de que se vai falar neste Ano da Graça de 2012. E eu vou bem ali tomar um iceberg de cerveja. Antes que o país volte a funcionar.


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