–Minha mulher não está bem, Doutor!
–Certo, mas diga, assim, mais ou menos como ela se sente.
–Assim, de terça pra cá, ela parece, x'eu ver, parece uma extra paga pela Globo pra ficar no auditório gritando feito uma desgraçada. E chora. Arranca os cabelos. Fica em pé, mesmo quando tem um assento vago do lado. E aí, a câmera sempre pega ela de perfil, meio com pressa, naquela indistinção, enquanto ela berra histérica pro cantor no palco. Agora, o que a gente nota pelo rabo de olho dela, é que a vontade dela não é essa; é a de olhar pra câmera olho no olho, dente no dente, e mandar um beijo pra família.
–Umm. Sei. Certo – retruca, então, o terapeuta com uma fisionomia tensa atrás dos aros – Mas tem mesmo esse cantor lá no palco da casa de vocês, é?
* * *
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