domingo, 15 de janeiro de 2012

Para uma dama na ponte-área

Robert Mangold, 1/3 Gray Green Curved Area, 1966

pra já, sua balada sugerida corta a tarde como se passa o fio da faca no limão antes de espremê-lo acima das bordas da caneca. calor. há tanto calor nas bordas da tarde. e esse piano, riscado a lápis, vai a deixar gotas de caixinha de música; e atesta o quanto você pressente bem o que gosta. e há na balada uma atmosfera de inevitabilidade e diminutas de desassossegar coração. e faz a gente olhar pra dentro daquela intermitente despensa, onde se guarda a memória de quem se gostou muito em breve prazo. e eu lembro do que suas mãos são capazes. e por aí a gente segue editando o resto do clip, da epopeia. é. lembro de como você dizia que eu preparava o mate mais gostoso do mundo. tenho me esforçado. já sabia que não era mau. mas agora sei que é especial, porque você é danada de exigente com os outros, mas é principalmente cruel, uma lampiã consigo mesma. e depois desse tempo, fico pensando se ainda segue maquiada pro trabalho. se segue a promover sorteios a partir de blogues. se ainda joga gamão ou tem de vez em quando a vontade louca de que o mundo acabe só para contar depois que presenciou um grande fato histórico, já que você perdeu a queda do muro. e anote, ninguém sussurra “you do something to me” mais bonito. e com certeza, você ainda gasta horas sem conta falando de moda daquele jeito bacana. daquele jeito que até eu, comprador de uma pá de camisas e calças iguais, só pra não ter de pensar muito na hora de calçar meus all-stars, gosto. mas reconheço, desta vez foram eles, os all-stars, que pisaram na bola. e, sei, é tão difícil reconhecer. e a mão segue escrevendo e não digo: “desta vez, pisei na maldita bola". e por outro lado, antes suprimi o pronome. é. você tem toda razão, a gente nunca quer assumir a responsabilidade, ser o sujeito dessas bagaceiras do coração. e o que mais mesmo? espero que você esteja bem. e se o mundo não acabar amanhã, não perca a esperança, algo deu errado. mas saiba, a coisa está por um fio.

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