[s/i/c]
Vou te ferrar, Gavião
Outro dia, proseando com amigos.
Alguém sugeriu que “Morena Clara” é um mau nome para uma loja de estilo ou grife de moda. Por supostamente ser racista.
Rá. É nada.
“É nada” era uma das senhas mais cultivadas por toda um círculo de amigos na década de 80. Havia os que diziam sua cota de “é nada” com certo acento odara-mascavo, como o Mimi Rocha. Sempre com alguma relutância, feito o Demétrius Câmara (uma hesitação que traía uma borra de dúvida, imaculada credulidade). O “é nada” do Moacir Chaves, o Manim, ejetava-se por um escracho quase sexual. Com erguer de sobrancelhas à Jack Nicholson e arregalada pausa de olhos escancarados, o do Rossé Sabadia. Ou então, com certa inflexão interiorana, aspereza falsa, longa e malina ênfase na vogal da primeira sílaba do "nada", o do Domingos Caetano.
O mais indizível "é nada" saía com um tiple ruidoso e pleno de graça dos lábios tenros de certa garota de cabelo à la page, que era, a despeito de "és" e de "nadas", a própria graça encarnada entre o verbo e o nome. Ai, ai... E tinha eu pouco mais que catorze anos de idade. Cirandas. Ah, como era grande aquela roda. Ah, como eram verdes aqueles vales, mesmo no estio. Ou naquela necessidade de aproximar Fortaleza e o fim-do-mundo.
"Ah!", essa interjeição tão prezada em letras de Dolores Duran! (Vocês estão vendo só, do jeito que eu fiquei - pausa à crooner - e que tudo ficou?).
Mas deixemos de tão relevantes considerações. Voltemos a nomes, escolhas. Há aqui mesmo em Fortaleza, prodígios do gênero. Uma coluna de culinária em um dos diários locais, por exemplo, se chama “Cozinharte”. E há uma loja de artigos moldados em ferro – luminárias, adereços, jarros suspensos, escadas em espiral, bancos para jardim – ali pras bandas de Salinas, que se chama: Ferrarte.
O slogan dessa última loja poderia ser, no mínimo: "porque eu quero Ferrarte". Pense. Se a ênclise anda fora de moda, que dirá da mesóclise.
Mesóclise hoje em dia: nem à trois.
* * *
Alguém sugeriu que “Morena Clara” é um mau nome para uma loja de estilo ou grife de moda. Por supostamente ser racista.
Rá. É nada.
“É nada” era uma das senhas mais cultivadas por toda um círculo de amigos na década de 80. Havia os que diziam sua cota de “é nada” com certo acento odara-mascavo, como o Mimi Rocha. Sempre com alguma relutância, feito o Demétrius Câmara (uma hesitação que traía uma borra de dúvida, imaculada credulidade). O “é nada” do Moacir Chaves, o Manim, ejetava-se por um escracho quase sexual. Com erguer de sobrancelhas à Jack Nicholson e arregalada pausa de olhos escancarados, o do Rossé Sabadia. Ou então, com certa inflexão interiorana, aspereza falsa, longa e malina ênfase na vogal da primeira sílaba do "nada", o do Domingos Caetano.
O mais indizível "é nada" saía com um tiple ruidoso e pleno de graça dos lábios tenros de certa garota de cabelo à la page, que era, a despeito de "és" e de "nadas", a própria graça encarnada entre o verbo e o nome. Ai, ai... E tinha eu pouco mais que catorze anos de idade. Cirandas. Ah, como era grande aquela roda. Ah, como eram verdes aqueles vales, mesmo no estio. Ou naquela necessidade de aproximar Fortaleza e o fim-do-mundo.
"Ah!", essa interjeição tão prezada em letras de Dolores Duran! (Vocês estão vendo só, do jeito que eu fiquei - pausa à crooner - e que tudo ficou?).
Mas deixemos de tão relevantes considerações. Voltemos a nomes, escolhas. Há aqui mesmo em Fortaleza, prodígios do gênero. Uma coluna de culinária em um dos diários locais, por exemplo, se chama “Cozinharte”. E há uma loja de artigos moldados em ferro – luminárias, adereços, jarros suspensos, escadas em espiral, bancos para jardim – ali pras bandas de Salinas, que se chama: Ferrarte.
O slogan dessa última loja poderia ser, no mínimo: "porque eu quero Ferrarte". Pense. Se a ênclise anda fora de moda, que dirá da mesóclise.
Mesóclise hoje em dia: nem à trois.
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