sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Que escrita não é artifício?


Germaine Riquier, Chess Board, 1959



Ainda do realismo que se confunde com naturalismo


Daí que de fato se pode questionar o porquê de alguém ser chamado de “realista” hoje em dia equivaler a um xingamento. Será que é tão-só pelo fato de Barthes haver apontado que o realismo baseia-se em determinadas convenções? Haver “desmontado” toda a lógica do realismo? E decretado que ela era, na verdade, um grande somatório de artifícios e convenções?

Ora, no afã de desmontá-la, Barthes apenas fez uso de outras tantas convenções. E estas, talvez, menos graciosas que a do, digamos, “realismo clássico” da ficção no Ocidente. Algo que segue de meados do sec. XIX até as primeiras décadas do sec. XX e nos deu escritores como Balzac, Flaubert, Dostoiévski, Machado de Assis e Henry James. Não é pouco. Tolos eles ainda são lidos avidamente na academia e fora dela. Por outro lado, quem hoje ainda lê Robbe-Grillet ou os outros expoentes do noveau-roman, tão incensados por Barthes como modelos de uma nova prosa, a não ser como curiosidades quase arqueológicas? Aqui, de fato, se produziu um processo de "morte do autor". Mas por razões inteiramente contrárias às propostas por Barthes.

De fato, o que mais incomoda hoje em dia é essa tendência de o escritor ter de “roubar” as verdades de seus leitores. De infundir nele alienação. De escrever para demonstrar, simultaneamente, ao leitor, que “está escrevendo”. Ou que sua escritura deriva apenas de uma precedente. E que toda escrita é apenas um artifício. Soa um pouco tola essa pretensão. Que escrita não é artifício? Acaso se pode dar a ver ao leitor a mesma paisagem pela qual se passou, as mesmas linhas do corpo da mulher que se amou? Ou tudo não é repassado em convenções e artifícios? Por realismo, aqui, também entenda-se experiências fruídas em primeira mão e não conhecimento adquirido em livros e ensaios.

A amplitude e a novidade de um crítico como James Wood se move, acima de tudo, por reestimar uma arte que está se lixando para os esquemas “meta”. Do contrário, ele crê que uma das maiores virtudes de um livro é criar um mundo factível o suficiente para receber o crédito do leitor.

Em tempo, algo extremamente difícil de achar hoje em dia



* * *

Um comentário:

  1. Ruy, meu caro,

    fico com Gay Talese:

    "Há muito acredito que o realismo é fantástico".

    Saudações alencarinas aqui desta Sampa com chuva pra tudo que é lado.

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