domingo, 15 de abril de 2007

Um longo título, uma medida, uma preciosa linha ao fim: Wright


Walker Evans, 1936




Lying In A Hammock At William Duffy's Farm
In Pine Island, Minnesota


Over my head, I see the bronze butterfly,
Asleep on the black trunk,
Blowing like a leaf in green shadow.
Down the ravine behind the empty house,
The cowbells follow one another
Into the distances of the afternoon.
To my right,
In a field of sunlight between two pines,
The droppings of last year's horses
Blaze up into golden stones.
I lean back, as the evening darkens and comes on.
A chicken hawk floats over, looking for home.
I have wasted my life.

James Wright


Deitado Numa Rede Na Fazenda William Duffy
Em Pine Island, Minnesota

Acima da cabeça, vejo a brônzea borboleta,
Adormecida no tronco negro,
Florescendo como uma folha em sombra verde.
Ravina abaixo ao pé da casa vazia,
Os chocalhos de vaca sucedem-se
Pelas distâncias da tarde.
À minha direita,
Num campo, réstias entre dois pinhos,
O esterco dos cavalos do passado ano
Rebrilham feito pepitas.
Reclino-me de novo, enquanto a noite ameaça e chega.
Um filhote de falcão paira, buscando abrigo.
Desperdicei minha vida.




Nota – James Wright [1827-1980] foi um dos poetas que melhor plasmou a atmosfera rural dos Estados Unidos no séc. XX. Wright foi também um importante tradutor do espanhol e do alemão. Ao abandonar parcialmente formas fixas e rimadas que dominava com maestria, publicou em 1963 seu livro mais seminal: The Branch Will Not Break [O Galho Não Quebrará], lançando mão de medidas mais livres. Wright foi quase uma exceção numa época de alinhamentos a grupos poéticos e devoção irrestrita ao verso livre [free verse], pois mesmo em seu “verso livre” pode-se pressentir a justeza da medida. Em geral, é alinhado, junto com Robert Bly, W.S. Merwin, Jerhome Rothenberg e outros sob o rótulo de Deep Image. Foi leitor e tradutor entusiasta do poeta peruano César Vallejo, bem como tradutor de Trakl e Rilke. Possuía um estilo tão próprio que é quase indelicado dizer que adotou, no início da carreira, algumas sugestões de Theodor Roethke, de quem foi aluno. Seu melhor universo centra-se no condado em que nasceu, Martin’s Ferry, Ohio. Há um outro poema de Wright em Afetivagem ["Rain"]. Bem como um de Roethke ["Elegy to Jane"].

2 comentários:

  1. Muito bom o poema. O blog está ainda mais agradável de acompanhar, agora que há essas notas embaixo dos poemas. Nem sempre é preciso que haja nota, a medida que os poetas vão sendo apresentados - se bem que por vezes uma pequena nota dando conta de uma impressão pessoal sobre o poema dá um toque mais pessoal a esse espaço, o que o torna ainda mais interessante também.

    Agora, uma dúvida.

    Over my head, I see the bronze butterfly,
    Asleep on the black trunk,
    Blowing like a leaf in green shadow.

    A imagem aí não é a da borboleta em repouso, mas balançando levemente, como uma folha, ao vento, na sombra? Optar por "florescendo" não impossibilita essa imagem do original?

    É que para mim esse é o melhor momento do poema, essa imagem da borboleta balançando como folha. É uma pérola.

    Abraços,

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  2. certo. boa observação. ñ sei se vou repondê-la. vou tentar.

    implicitamente, a idéia de crescimento já porta a idéia de pulsação [ou, melhor, transformação]. daí qdo. há um surto de boas idéias num determinado local -- num país, numa cidade -- dizemos q. a rússia ou atenas estava "pulsando", etc. ora, um das acepções do verbo "blow" em português é precisamente esta: "florescer". note q. a escolhe deve obdecer também a critérios de musicalidade. nesse sentido a destacada aliteração do "s" em "florescer", é uma espécie de equivalente, mais brando, para a do "l" em "blowing". mas evidente, entra aqui um forte filtro subjetivo, uma dose de escolhas próprias. e q. são de cada um. embora seja bom poder justificá-las da forma mais clara possível.

    é mto. curioso, pqe. tende a ser o passo na tradução q. mais me agrada. pela aliteração no tempo forte dos pés, etc. [a solução preterida aqui foi "florando feito uma folha" -- q. soa artificial, "poético" em excesso, talvez.]

    abs.

    ruy

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