segunda-feira, 16 de abril de 2007

Perda e devaneio num álbum de família: Lowell


Édouard Vuillard, 1894



For Sale

Poor sheepish plaything,
organized with prodigal animosity,
lived in just a year—
my Father’s cottage at Beverly Farms
was on the market the month he died.
Empty, open, intimate,
its town-house furniture
had an on tiptoe air
of waiting for the mover
on the heels of the undertaker.
Ready, afraid
of living alone till eighty,
Mother mooned in a window,
as if she had stayed on a train
one stop past her destination.

Robert Lowell


À venda

Brinquedo mais acanhado,
preparado com pródiga animosidade,
durou só um ano—
o chalé de meu pai em Beverly Farms
foi a mercado no mês de sua morte.
Vazio, aberto, íntimo,
a mobília de prefeitura
na ponta dos pés
esperava pelo proponente
no calcanhar do agente funerário.
Atenta, temerosa
de viver só até os oitenta,
mamãe sonhava à janela
como se estivesse num trem
uma parada após a dela.




Nota – num típico poema da dita ‘confessional poetry’, seu expoente máximo, Robert Lowell [1917-1977], entre outras, recorda o chalé do pai sendo rapidamente posto à venda após a morte deste. As famílias às quais o novo-inglês Lowell pertencia eram antiqüíssimas. Uma delas teria vindo no próprio Mayflower [o primeiro navio com puritanos a chegar na Baía de Plymouth, em 1620]. Lowell, escandalizou a família, ao, entre outras, converter-se ao catolicismo, após viver algum tempo no Sul [Louisianna]. Verdadeira heresia para esses velhos quakers de Massachussetts. Lowell era um habilidoso versejador em formas fixas. E foi um dos poetas mais apreciados pelo New Criticism. Conheceu enorme sucesso em vida, o que o fez amigo do casal Kennedy, p. ex. Livros como Lady Weary's Castle [1946] e Life Studies [1959] foram saudados como clássicos instantâneos. Esteve muito ligado por admiração mútua e amizade a Elisabeth Bishop - que, hoje, talvez seja mais lida que ele. Foi também um tradutor versátil. Há mesmo um volume seu chamado Imitations (Imitações, 1961), em que recria, a seu modo, peças de poetas europeus de sua preferência: Homero, Safo, Villon, Leopardi, Heine, Baudelaire, Rilke, Montale, Pasternak, entre outros. Trata-se, de resto, de um belo volume, sempre listado entre os demais livros de poesia do autor.

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