sábado, 14 de março de 2009

O start, o mausoléu e a essência de um povo


Arquitetura típica do município de Poranga, oeste do Ceará




Essas e outras


i.
Hoje no O Povo uma jornalista tascou esta:

"O start das obras já foi dado e a inauguração está agendada para julho próximo".

Irmãos, starteemos!

ii.
Maracanaú, um distrito industrial ao sul de Fortaleza, com altos índices de violência, irá erguer, com caríssimo projeto assinado por Oscar Niemeyer, o Monumento e Mausoléu da Paz. Quantos não serão assaltados e correrão risco de vida em frente a esse indispensável monumento, cujas obras ainda não tem previsão de start.

iii.
Em consórcio com o governo do estado o Instituto Albanisa Sarasate deu start, semana passada, à publicação de uma série de cadernos, encartados em edições dominicais de O Povo, com extensão multimídia, chamados Autoestima Cearense. Volumes start, 2 e end. E pensar que há dinheiro do contribuinte numa publicação e produção de vídeos que visa ampliar "o debate sobre os elementos caracterizadores da essência do povo cearense". Eu sei de três pelo menos: dormir de rede (ao menos na sesta), chupar cajú (ao menos na safra) e não ler cadernos especiais sobre sua essência (ao menos na sua sanidade mental). [O quarto seria consultar a magnífica obra do potiguar Câmara Cascudo para saber mais sobre seus costumes d'antanho]. Também sei de duas que jamais darão start à leitura desses doutos cadernos: Mariana e Isabela, minhas filhas.


* * *

4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Prezado Ruy,

    um Estado pobre e sofrido como esse nosso Ceará, não merecia essas "iniciativas".O mausoléu da paz a ser projetado em Maracanaú, não ficaria bem nem em Guernica.

    É por essa e outras que não sabemos o que seja autoestima. O que não será contado nos fascículos semanais do jornal O Povo, financiados com dinheiro público (isso nunca acaba?!), é que autoestima se constroi com educação, moradia, emprego, saude, etica nas relações sociais. O resto é baboseira oportunista e taxidermia cultural.

    Não tarda lançarem cadernos de psicoterapia para ensinar como superar os traumas da carencia de autoestima...

    abraço,

    Augusto Cesar Costa

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  3. RUY:

    Senti a mesma reação que você na manhã deste domingo, quando a continuação das "pesquisas" de O POVO sobre a auto-estima do Cearense. Até enviei a alguns amigos uma molecagem a ser acrescentada a essas Jóias da Cultura Popular do Ceará. Não enviei para você, porque ultimamente você não tem reagido ao que lhe envio: o que mostra V. ter assimilado a cultura civilizada da classe média cearense.
    Apreciei agora seu comentário e a «taxidermia cultural» do Agusto Cesar. Por isso, lhe mando meu comentário a ser ajuntado aos traços que você propôs para o cearense:
    Observador arguto e irônico de nossas coisas que foi João Brígido, num livro do final do século XIX (1899), nos dá, com sua verve mordaz, um conjunto de histórias saborosíssimas para ilustrar a síntese com que caracterizava nossos antepassados cearenses: «Bons, Burros e Bravos». Enfim, se quisesse ajuntar à de vocês a minha opinião, eu diria que o cearense possui como qualidade principal a imensa capacidade de conviver em parceria com o Diabo, à semelhança de Riobaldo; e seu defeito mais grave é o da resignação. Mas essas coisas caracterizam efetivamente um povo particular?!

    E. Diatahy B. de Menezes

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  4. Um educador amigo meu trabalhou algum tempo em um projeto do poder público que tinha como objetivo o aumento da autoestima de jovens em situação social de risco (provavelmente monitorando os garotos com estimômetros). Na primeira reunião com um grupo de rapazes, perguntou a um deles como havia passado o final de semana. "Muito bem", respondeu o jovem. "Roubei vinte e cinco celulares; quebrei o recorde da gang".

    Eu me pergunto o que acontece quando se inventa de aumentar a autoestima dos outros assim, sem mais nem menos.

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