[s/i/c]
Tabletes Edulcorados
Como se pode imaginar que casais possam ser felizes, se está fora do horizonte o querer bem? Esse bem-querer mútuo pode até começar na forma de filme: exaltado, passional. Exaltação e passionalidade passam. O noves fora é o dia, e outro dia, mais outro.
Semanas, meses, anos. Os salmos disso. Tudo tão distinto da patética passionalidade daqueles filmes em que John gira Betty na clareira de um campo de girassóis absolutamente encantatório, à contra-luz do sol-posto, num plano que progressivamente abre-se em zoom para o infinito. A verdadeira paixão, a exemplo do amor, está no "trabalho diário": lavar a louça sem perder o fio da anedota. Reverter o fel do lábio sem necessariamente edulcorá-lo. Não há filmes, planos ou zooms por aqui. A não ser o zunido dos dias, que quase sempre nada tem de glamurosos.
Os antigos diziam, não digas conhecer um ser humano sem antes ter comido com ele um saco de sal. Nossos problemas enquanto casais é que vivemos no Reino do Caramelo. Doce, doce. Mas dissolve rápido.
E aí pode-se dizer: o meu modelo de amor? Peguei num comercial da Hershey's.
Para nós, no milênio novo, mais subestimada que paixão, só a palavra caridade. Horror a essas mensagens adoçadas onde se lê: "um beijo no coração". Pense em aortas, ventrículos, prolapsos, safenas, mitrais. Poucas coisas há, a exemplo do adjetivo "fofo", de mais kitsch na face das terras em que se fala o idioma português.
No caso do "fofo", aliás, pode-se imaginar um guru pregando: "irmãos, estofai-vos uns aos outros!".
* * *
Semanas, meses, anos. Os salmos disso. Tudo tão distinto da patética passionalidade daqueles filmes em que John gira Betty na clareira de um campo de girassóis absolutamente encantatório, à contra-luz do sol-posto, num plano que progressivamente abre-se em zoom para o infinito. A verdadeira paixão, a exemplo do amor, está no "trabalho diário": lavar a louça sem perder o fio da anedota. Reverter o fel do lábio sem necessariamente edulcorá-lo. Não há filmes, planos ou zooms por aqui. A não ser o zunido dos dias, que quase sempre nada tem de glamurosos.
Os antigos diziam, não digas conhecer um ser humano sem antes ter comido com ele um saco de sal. Nossos problemas enquanto casais é que vivemos no Reino do Caramelo. Doce, doce. Mas dissolve rápido.
E aí pode-se dizer: o meu modelo de amor? Peguei num comercial da Hershey's.
Para nós, no milênio novo, mais subestimada que paixão, só a palavra caridade. Horror a essas mensagens adoçadas onde se lê: "um beijo no coração". Pense em aortas, ventrículos, prolapsos, safenas, mitrais. Poucas coisas há, a exemplo do adjetivo "fofo", de mais kitsch na face das terras em que se fala o idioma português.
No caso do "fofo", aliás, pode-se imaginar um guru pregando: "irmãos, estofai-vos uns aos outros!".
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acho que os últimos posts estão muito bons, ruy. um abraço,
ResponderExcluirHahahaha, tem razão, mas uso o adjetivo "fofo" como muita frequência e, além disso, sou tão kitsch que tenho todo um dialeto particular.
ResponderExcluirQualquer dia conto.
Beijos.
ai, ruy.
ResponderExcluiressa foi certeira demais!
bjs.