segunda-feira, 16 de março de 2009

Fetiches conceituais X ARTE


Djanira, estudo para o cartaz da peça Orfeu da Conceição, 1954



Sirventês e
Double-Bind


Sem subestimar a importância do discurso sobre arte, é preciso não perder de vista que o maior discurso de uma obra de arte é ela própria. Não há um estudo crítico de Bach que valha dois compassos de uma cantata de Bach.

É claro que é importante que se fale de arte. Especialmente de forma propedêutica, didática. Mas quando a fala, o argumento sobre a arte ganha mais relevância que a própria arte, algo fede feio no reino. Algo análogo ao que se dá nos cursos de Letras, onde em vez de se lerem poetas ou contistas, lêem-se quase que exclusivamente teorias críticas. É mais fácil um aluno sair de uma pós-graduação em Letras sabendo o que Derrida quis dizer com “double-bind” do que a par do que é um “sirventês”.

“Diálogos possíveis”, “matrizes simbólicas”, “coletivos de arte”, “circuito independente”, “processos excludentes e legitimadores”, “ações interdisciplinares”, “gestão cultural”, “meios propositores de reflexão”, “direcionamento do rumo da produção”, “formas de organização sem ordem hierárquica e participativa de seus membros”, “estratégias que driblem interesses espúrios à experiência inventiva da arte”, "economia das trocas simbólicas", “sistemas de mediações no campo do conhecimento estético”, “retroalimentação segundo as suas próprias práticas”.

Como se pode pensar que essas expressões vêm de artistas?

Não vêm. Não podem vir. Vêm, do contrário, de burocratas da arte.



* * *

Nenhum comentário:

Postar um comentário