sábado, 20 de dezembro de 2008

Quando eu quero, rima e metro: Joyce


Cecil Collins, The Sleeping Fool, 1943




I Hear an Army


I hear an army charging upon the land,

And the thunder of horses plunging; foam about their knees:

Arrogant, in black armour,behind them stand,

Disdaining the reins, with fluttering whips, the Charioteers.


They cry into the night their battle name:

I moan in sleep when I hear afar their whirling laughter.

They cleave the gloom of dreams, a blinding flame,

Clanging, clanging upon the heart as upon an anvil.


They come shaking in triumph their long grey hair:

They come out of the sea and run shouting by the shore.

My heart, have you no wisdom thus to despair?

My love, my love, my love, why have you left me alone?


James Joyce



Ouvi um exército


Ouvi um exército descarregando sobre a terra,

E o troar de cavalos compelindo-se; espumas pelas barrigas:

Arrogantes, atrás deles, sob o arnês negro que cerra,

A desdenhar as rédeas, com golpes flapantes, os aurigas.


Eles gritavam noite afora seus nomes de guerra:

Gemi no sono quando ouvi ao longe a risada turbilhonante,

Clivavam o sombrio dos sonhos, uma chama que encerra,

Tinindo, tinindo sobre o peito como sobre um malhante.


E vinham sacudindo em triunfo suas longas, cinzas tranças:

Vinham do mar e seguiam gritando por terra, em contraste.

Ah, coração não tens razões, então, para desesperanças?

Ah, amor, meu amor, meu amor, por que me abandonaste?









Nota – pode-se crer melhor no homem que escreveu Ulysses e Finnegan's Wake ao saber que ele, quando bem entendia, podia rimar e metrificar a seu bel-prazer, como um poeta à antiga. Ou seja, com plena consciência do verso como medida. Hoje em dia, se faz o inverso: começa-se pelo verso livre ou “atômico”. Ou o des-verso. O problema é que não se dá a volta. Ou seja, não se saberia escrever sob medida. Sob medida aqui, também quer dizer: derivando as formas da história. As formas antigas. Há do contrário em Ulysses, um magnífico capítulo em que Joyce, destilando e esbanjando toda sua técnica, recapitula uma a uma, por sucessão cronológica, as formas e métricas mais comuns do idioma inglês, pastichando-as com brilhantismo e uma altivez e conhecimento de causa espantosos. Talvez para afirmar: eu estou deixando tudo isto para trás. Superando isto. Embora só possa fazê-lo porque disto me nutri, parece dizer. Diante disso, o problema com a poesia hoje, então, parece ser de desnutrição.



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