terça-feira, 2 de dezembro de 2008

O invisível é revelado pelo real


Robert Bresson, 1959


Por uma arte realista


A favor de uma arte realista - o que deve soar anátema neste mundo barthesiano em que vivemos - investiguei nos últimos tempos o modo como o realismo se dá no cinema. Tomei como leitura as observações de dois cineastas que o reivindicam: Bresson e Rohmer. Duas cabeças próximas ao defensor dileto do realismo em cinema: André Bazin.

Uma possível síntese do que tanto Bresson quanto Rohmer reivindicam, ao assimilar, variar, digerir e recriar a riquíssima perspectiva de Bazin pode ser assim expressa:

"o cinema revela o invisível sem violar a visibilidade das coisas".

De resto, tanto na arte como fora dela, o que impressiona no momento está longe der ser só a incomensurabilidade de referências (ou inflação de discurso) - afinal, a informação é, por princípio, desdobrável em especiosidade infinita - mas aspecto outro: o modo como na argumentação as pessoas se põem num permanente estado de duelo. A razão desta disputa é provar ao outro que se parte de uma teoria mais recente. Como se, por si, a mera "recentibilidade" constituísse uma vitória moral sobre o argumento do outro. O critério decisivo. Incontestável. Uma sorte de autoridade pela novidade.

A chave do problema - e isso vem se tornando mais agudo - é que a novidade nem sempre implica uma maior precisão. Ou que se pode infalivelmente, através dela, divisar melhor o mundo à volta. Assim, cada vez mais é possível desconfiar que quem ama a novidade, nesses moldes, está mais próximo da publicidade, do consumo que da arte.

Não há arte que não provenha da precedência do mundo. É este o primeiro mandamento de todo realismo.


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