sábado, 20 de dezembro de 2008

Sobre credulidade & moinhos de vento, um conto


Jesse Dale Cast, The Windmill, 1934


Para contar a história


Havia grandes monstros cercando a cidade. Gigantes e quase imóveis. Capazes de com o cotovelo esmagar um condomínio de trinta andares. Percebeu isto antes de qualquer outro habitante. Alertou a população para o perigo na televisão, nos jornais. Por blogues ou listas de discussão disseminou o sinal e a urgência. Fez palestras em faculdades e no Clube de Diretores Lojistas. Partiu para o boca a boca. Passou e repassou imeios. De nada adiantou. Apenas o seu ex-almoxarife, um sujeito gordo, de olhar crédulo e humilde, lhe deu atenção. Foi recolhido a uma casa de repouso. Pois todos os outros, sem conseguir divisar um palmo adiante do nariz, julgavam que os tais monstros eram apenas as torres da usina eólica postadas à entrada da baía. Três dias depois, os monstros resolveram agir. E se abateram sobre a cidade.

Eu somente, que contava entre os incrédulos, entre aqueles que vociferavam diante dele – como os canhões de uma jovem república vociferam diante de três romeiros maltrapilhos em nome da lei e da ciência – escapei com vida. Sobrevivi.

Para contar a história.




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