segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Excessos de auto-consciência, nos levam para onde?


Ruskin Spear, 1961



Et Vanitas Vanitatum


A questão é: os perigos do excesso de auto-consciência.

O que é gerado a partir daí? Apenas niilismo? Ou também esperança?

Quando falo, aqui, em esperança, obviamente não me remeto à babaquice de frases feitas ou à sentimentalidade abstrata que o termo evoca. Mas à capacidade de empatizar com outras pessoas: algo cada vez mais raro, neste mundo que nos confina dentro das fronteiras estreitas de nossos próprios crânios. E cola a esses crânios extensões mínimas como aparelhos celulares ou ipods que nos distanciam ainda mais dos que estão à volta. E os colam para que sigamos em comodidade consumindo ainda mais: músicas, imagens, palavras ou até a conversa dos outros. Quer dizer conversando ao telefone móvel estamos consumindo uma oferta que nos é disponibilizada pelas tecnologias digitais analâmbricas.

O certo é que auto-consciência está longe de ser uma panacéia. É apenas um dom que uns têm – e cultivam – mais que outros. Há, por exemplo, pessoas tão pouco conscientes de si, que sequer se dão conta do modo como o espaço de seu próprio corpo afeta o espaço dos que estão á volta.

Ocorre com um conhecido meu, professor universitário, que, se ele segue conversando durante um passeio a pé, sua tendência é a de ou comprimir o interlocutor contra a parede ou jogá-lo à coxia, para além do meio-fio. Então é sempre providencial você armar uma leve cotovelada. Embora a cotovelada só alivie a situação por algum tempo. Ao que parece, ele próprio não se dá conta das escalas ou do espaço que ocupa no mundo. Ou do modo como dirige a palavra ao outro, que invariavelmente implica numa incômoda, desnecessária proximidade corporal. Como se necessariamente algo íntimo ou importante se tornasse mais íntimo ou mais importante por essa régua de espaço físico mal calculado.

É tipo conversar com gente que cospe em você o tempo todo. E não se dá conta disso.

Ora, a medida em poesia é semelhante. É como se você, de modo automático, estivesse movendo-se sempre em harmonia com a escala de seu espaço. Que não é a mesma, digamos, com sua namorada ou em uma conversa formal com o Diretor do Centro de Humanidades.

É claro que é saudável possuir certo grau de auto-consciência.

O problema é que isso está longe de evitar que você dê com os burros n'água ou cometa uma porrada de injustiça nas situações as mais diversas possíveis ao longo de uma vida. E as vidas, mesmo as breves, são feitas de muitos dias e envolvem as situações mais bizarras possíveis e imagináveis entre céu e terra.

Há certos momentos, que você precisa agir como num estalo de dedos, por puro faro e intuição.

E, logo, auto-consciência está longe de ser a panacéia para os teus males. Mas este blogue, apesar de se ter esforçado nos últimos tempos, ainda não é de auto-ajuda, caro leitor.

Et vanitas vanitatum.



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