[s/i/c]
Missa à Alba
Recolhi a vela e sequei as tarrafas gotejantes
Onde o alvo cais é matizado por plátanos frios
Em cujos vastos galhos, sempre minguantes,
Os rouxinóis seguem cantando cedo ou tardios.
Entanto tudo cinza fosse abaixo da lua em gema,
A nova pintura de meu barco como noiva luzia,
E prata em meus samburás brilhava a brema:
Meus braços exaustos e os olhos em apatia,
Mas quando com de comer e beber, no destranco
Da manhã, os garotos me acharam à vigia,
Nunca o vinho foi tão rubro e o pão tão branco.
Nota – brema [v.7] é um peixe da família dos escaróides. Roy Campbell (1901-1957) não fosse por suas opções políticas e de relações literárias, seria hoje um dos mais lidos poetas no universo de língua inglesa, a exemplo de Dylan Thomas, de quem foi amigo. Hoje quase não é mais publicado em antologias ou resenhado nas principais revistas. Sua desgraça passa não só por haver defendido causas políticas e religiosas que andavam fora do figurino, mas também por sua inacreditável vocação para fazer inimigos poderosos. Sua truculência faz lembrar Hemingway. É a mesma paixão por pescarias em alto mar, caçadas, touradas, álcool, e brigas sortidas. Só que num sujeito de direita. Elogiado por Eliot e Dylan e até por adversários políticos como Stephen Spender, a quem certa feita agrediu durante uma palestra, Campbell morreu num acidente de carro próximo a Setúbal, em Portugal, onde residia então. Tradutor talentoso, verteu para o inglês, entre muitos outros, Camões, San Juan de la Cruz, Baudelaire e Garcia Lorca.
Mass at Dawn
I dropped my sail and dried my dripping seines
Where the white quay is chequered by cool planes
In whose great branches, always out of sight,
The nightingales are singing day and night.
Though all was grey beneath the moon’s grey beam,
My boat in her new paint shone like a bride,
And silver in my baskets shone the bream:
My arms were tired and I was heavy-eyed,
But when with food and drink, at morning-light,
The children met me at the water-side,
Never was wine so red or bread so white.
I dropped my sail and dried my dripping seines
Where the white quay is chequered by cool planes
In whose great branches, always out of sight,
The nightingales are singing day and night.
Though all was grey beneath the moon’s grey beam,
My boat in her new paint shone like a bride,
And silver in my baskets shone the bream:
My arms were tired and I was heavy-eyed,
But when with food and drink, at morning-light,
The children met me at the water-side,
Never was wine so red or bread so white.
Roy Campbell
Missa à Alba
Recolhi a vela e sequei as tarrafas gotejantes
Onde o alvo cais é matizado por plátanos frios
Em cujos vastos galhos, sempre minguantes,
Os rouxinóis seguem cantando cedo ou tardios.
Entanto tudo cinza fosse abaixo da lua em gema,
A nova pintura de meu barco como noiva luzia,
E prata em meus samburás brilhava a brema:
Meus braços exaustos e os olhos em apatia,
Mas quando com de comer e beber, no destranco
Da manhã, os garotos me acharam à vigia,
Nunca o vinho foi tão rubro e o pão tão branco.
Nota – brema [v.7] é um peixe da família dos escaróides. Roy Campbell (1901-1957) não fosse por suas opções políticas e de relações literárias, seria hoje um dos mais lidos poetas no universo de língua inglesa, a exemplo de Dylan Thomas, de quem foi amigo. Hoje quase não é mais publicado em antologias ou resenhado nas principais revistas. Sua desgraça passa não só por haver defendido causas políticas e religiosas que andavam fora do figurino, mas também por sua inacreditável vocação para fazer inimigos poderosos. Sua truculência faz lembrar Hemingway. É a mesma paixão por pescarias em alto mar, caçadas, touradas, álcool, e brigas sortidas. Só que num sujeito de direita. Elogiado por Eliot e Dylan e até por adversários políticos como Stephen Spender, a quem certa feita agrediu durante uma palestra, Campbell morreu num acidente de carro próximo a Setúbal, em Portugal, onde residia então. Tradutor talentoso, verteu para o inglês, entre muitos outros, Camões, San Juan de la Cruz, Baudelaire e Garcia Lorca.
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