Alfredo Chighine, Composizione con palma, 1960
Salmo-Soneto escrito num Domingo de Carnaval Chuvoso
Os dias se consomem feito fumaça,
O pulso sem seiva, erva no estio,
Pardal avulso nas telhas vigio
Os inimigos tramarem a desgraça.
A sombra, mesmo à tarde, se esgarça;
Quem ouve o que sai de outro lábio:
Queixa do justo, choro do sábio,
Toda justa palavra jogada à traça?
Tudo que escrevo se toma à troça,
São cinzas o fermento para o pão
E de pranto o tempero no copo.
O que ajuntei no tempo me roça
O rosto, fumaça que molha aflição
Na terra breve por onde galopo.
* * *
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