quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Arrumar o cabelo e seguir vinte e cinco anos depois

 Julio Gonzalez, Mulher Penteando o Cabelo, 1936

Vai, passa a mão

Você tem saudade daquele garoto magro, de cabelos longos, caindo nos olhos, que vivia lendo no ônibus? A caminho do campus, todo um enxame de meninas acotovelava-se em torno. E como passavam as mãos nos cabelos. E o garoto, de tão avoado, pensava, ato contínuo, que era porque os cabelos dele estavam desgrenhados. 
Pelo menos até o dia em que uma mais afoita – que nunca é a que gente quis ardentemente – desvelou a razão com a complacência de um hímen.
E agora você sabe, segue pelas ruas de manhã cedo. Comprar pão, azeitar um pouco as juntas. E avulsa, uma menina longilínea, bem aquinhoada, saída de um sonho colateral, surge na esquina. E no tumulto do  coração você grita em pensamento:
Vai, passa a mão no cabelo”!

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