Julio Gonzalez, Mulher Penteando o Cabelo, 1936
Vai,
passa a mão
Você
tem saudade daquele garoto magro, de cabelos longos, caindo nos
olhos, que vivia lendo no ônibus? A caminho do campus, todo um enxame de meninas acotovelava-se em torno. E como passavam as mãos
nos cabelos. E o garoto, de tão avoado, pensava, ato contínuo, que
era porque os cabelos dele estavam desgrenhados.
Pelo menos até o
dia em que uma mais afoita – que nunca é a que gente quis
ardentemente – desvelou a razão com a complacência de um hímen.
E
agora você sabe, segue pelas ruas de manhã cedo. Comprar pão, azeitar um
pouco as juntas. E avulsa, uma menina longilínea, bem aquinhoada,
saída de um sonho colateral, surge na esquina. E no tumulto do coração você grita em pensamento:
“Vai,
passa a mão no cabelo”!
*
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