Tom Jobim, Tema-Sertão, s/d
Canudos na Geórgia
Guram Dochanashvili, um escritor da Geórgia, nascido em 1939, é bastante renomado em seu país. Sua formação de origem é história. Ao iniciar a carreira, no início dos 60, rejeitou os dogmas do realismo socialista em favor de uma prosa que retêm a leveza e inventividade de contos-de-fada. Segue traduzido em português. O que poucos sabem é que a principal obra de Dochanashvili, o romance A Primeira Veste (1975), é baseado na Guerra de Canudos. Ou seja, decalca em via direta de Os Sertões, a obra monumental de Euclydes da Cunha.
Quando se sabe que o episódio de Canudos também foi o assunto de A Guerra do Fim do Mundo, de Vargas Llosa, uma provocação: alguém lembra de São Paulo haver sido o centro de um único grande romance escrito por um importante prosador contemporâneo estrangeiro?
Outro que escreveu a partir de Os Sertões foi o húngaro Sándor Márai (Veredicto em Canudos, 1960). Livros sobre o sertão, supostamente ultra-regionais e específicos, como os de Euclydes da Cunha e, de pois dele e num plano ficcional e experimental, Guimarães Rosa, consistem em nossos livros de apelo mais universal em língua portuguesa no séc. XX. Mais estáveis, complexos, bem escritos que Lobo Antunes ou Saramago. E quando se sabe que autores como João Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de Andrade ou João Guimarães Rosa não ganharam o Nobel, o problema é do Nobel. E não pequeno problema.
Ou seja, a ironia: Canudos, no tórrido Sertão do Nordeste, um povoado de presumíveis 20.000 habitantes, varrido do mapa há mais de cem anos pela artilharia de uma república recém-proclamada, fascina mais a imaginação de ficcionistas estrangeiros que a grandiosidade épica, cinza e pós-moderna de São Paulo, com suas vinte milhões de almas agora, já, ou desde há uns trinta anos. Fascina, aliás, muito mais que cus de Judas ou ensaios sobre cegueiras.
E o quanto disso tudo não se deve a dois livros.
Quando se sabe que o episódio de Canudos também foi o assunto de A Guerra do Fim do Mundo, de Vargas Llosa, uma provocação: alguém lembra de São Paulo haver sido o centro de um único grande romance escrito por um importante prosador contemporâneo estrangeiro?
Outro que escreveu a partir de Os Sertões foi o húngaro Sándor Márai (Veredicto em Canudos, 1960). Livros sobre o sertão, supostamente ultra-regionais e específicos, como os de Euclydes da Cunha e, de pois dele e num plano ficcional e experimental, Guimarães Rosa, consistem em nossos livros de apelo mais universal em língua portuguesa no séc. XX. Mais estáveis, complexos, bem escritos que Lobo Antunes ou Saramago. E quando se sabe que autores como João Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de Andrade ou João Guimarães Rosa não ganharam o Nobel, o problema é do Nobel. E não pequeno problema.
Ou seja, a ironia: Canudos, no tórrido Sertão do Nordeste, um povoado de presumíveis 20.000 habitantes, varrido do mapa há mais de cem anos pela artilharia de uma república recém-proclamada, fascina mais a imaginação de ficcionistas estrangeiros que a grandiosidade épica, cinza e pós-moderna de São Paulo, com suas vinte milhões de almas agora, já, ou desde há uns trinta anos. Fascina, aliás, muito mais que cus de Judas ou ensaios sobre cegueiras.
E o quanto disso tudo não se deve a dois livros.
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