[s/i/c]
Pelos canais do ser
De repente, certo trecho de Herberto Helder nos faz pensar que a poesia existe. Que toda essa negatividade à francesa de autores mortos, leitores-autores e desconstrução são fábulas para acalantos bovinos:
Pelos canais do ser
De repente, certo trecho de Herberto Helder nos faz pensar que a poesia existe. Que toda essa negatividade à francesa de autores mortos, leitores-autores e desconstrução são fábulas para acalantos bovinos:
Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Só mais uma indagação - um tanto fortuita: isto é metapoema? Resposta: sim. É metapoema, no entanto, em medida que todo poema é meta. Não mais. Porém como metapoema, parece pulsar, suar, cagar, cuspir e escarrar de um modo tão vivo, tão próprio, tão portando um mistério e um lastro de experiência anterior pressentido. Enfim, é mesmo antípoda da chatice previsível, do cantochão pré-anunciado, disseminado dos metapoemas de, digamos, um Haroldo de Campos ou boa parte de seus epígonos ajuntados sob o rótulo de "neo-barroco". De algum modo, há vida e fluxo aqui. Muita. Como num manguezal à foz de um rio. Quer dizer, este texto nos repõe a impressão de um poeta por trás do verso. Não de um teórico e sua teleologia.
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