terça-feira, 4 de novembro de 2008

Pois a janela desfolha o bairro: Lima


sem indicação de crédito


'Deixe a janela aberta'


deixe a janela aberta
dez mil metros podem ver alguém
perder a cabeça, vôo dos bichos noturnos,
camisas sem cor.
veja.dez mil metros a seguir o que
desaparece.



Nota - nunca muito cerca, sempre dignidade. Um livro para ser auscultado: vinte e sete de janeiro, Carlos Augusto Lima (Lumme Editor, 2008). Deixar a janela aberta para o que desaparece. Mas tudo que desaparece já apareceu um dia - nem que na forma do espectro ao início do Hamlet. Ou então, do Fantasma de Falk - as pistolas, o cachorro, a solidão que se chama África. Invenção de Morel. Vivemos de aparências. Equilibrando-se nessa fina tessitura entre ser, parecer. Será que parecer é ser? Como o sol (que parece e é) é um exemplo? De qualquer ângulo, há uma abertura para o mundo. Ou mais propriamente um livro como jogo de esconde. Hesitar entre expor e tapar. Bom ouvir coisas assim quando tudo em volta são escatologias, citações. Quase nunca beleza, mata em flor. Agonias em torno de poder. Não se pode fazer muito mais e olhar por uma janela. Talvez à espera de um arauto que bata à nossa porta com a mensagem de um morto. Mas, claro, sabemos: isso não ocorrerá. Nem nunca outro qualquer contentamento. Difícil mesmo é tornar a ser menino. E as ruas do Centro.

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