quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Poema


[s/i/c]


Uma idéia


Passei a noite pensando uma idéia.

Era tão obsedante que eu não ouvia

o rumor do vento nos galhos da goiabeira.

Não tinha mais filhas.

De uma prece, não lembraria.

Ou se lembrasse, a prece cairia

no fosso, antes de atravessar a muralha.


Fiquei nu com essa idéia.

Ela roubou meu corpo.

Retirou minha necessidade de água.

Fumou todos os meus cigarros.

Ocupou meu sono como

uma girafa chama o olho da criança no zôo.


Pus-lhe sob vários prismas.

Olhei-a com as pernas presas ao trapézio.

Mas ela revidava lá, abaixo

e engolia fogo.

Tentei em vão extingui-la;

cresceu, labareda.


Retorceu o meu passado

e dele coou café e insônias.

Mas quando pensei tomá-la na mão

—como se toma o lápis ou a seda—

ela me disse que não, sem rastros.


Então, a borra da noite cedeu à luz inevitável.

A clara manhã é bem-vinda.





10 comentários:

  1. Rapaz, é disso que falo quando falo de poesia. Isso salva a língua, que é a função mais alta.

    Abraço,

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  2. ó tem um esse a menos no texto, amigo.

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  3. grato, amigo kelsen,

    já pus o "s" nos 'prismas'.

    que é que se é sem os outros?

    apenas uma idéia que nem chega a ser pensada.

    valeu,

    abs.

    * * *

    obrigado, mariana. 'tava sentindo sua falta, sua danada. se é q. v. é a mesma mariana, aluna da gabi, q. já me escreveu uma vez.

    bjs.

    p.s. - desculpe me referir a v. sempre como "a aluna da gabi", mas é q. ñ sei seu sobrenome. me diga da próxima! [rs.] o de minha filha é [mariana cardeal] de carvalho. ela não levou o meu vasconcelos, q. o sobrenome de minha mãe. carvalho é o nome da família de meu pai.


    * * *

    bom, odorico, o poema é simples. mas é também - e tão obviamente, como revela o itálico do último verso - em resposta àquela bela postagem de hoje no 'dessincronizado'. peirce é realmente alguém para ser ler com atenção. aliás, tanto citação quanto comentário atingiram aquele grão, aquela mostarda q. se espera da escrita: precisão! parabéns!

    abs.

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  4. oi, ruy, sou eu mesm: aluna da gabi. estou sempre por aqui..
    o meu sobrenome é mariana fontenele braga, mas eu prefiro o fontenele que é o da família de mamãe.
    bjs.

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  5. "de" mamãe? por acaso v. é do cariri? [rs.]

    bjs.

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  6. rs..
    sou de fortaleza mesmo!

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  7. ah, bom, mariana fontenele, por um instante pensei q. v. era do sul do estado. posso tentar um outra hipótese, então. duas aliás: 1. sua família é de lá; 2. seu namorado é de lá.

    me responda, então. nos últimos tempos eu ñ tenho acertado nada mesmo. a gente tem de arriscar, né? [rs] veja a gabi, por exemplo. às vezes eu acho q. ela é do interior. mas é só porque ela leu tanto o 'grande sertão', q. às vezes fala com o sotaque do 'grande sertão'. está vendo?

    bjs. e grato por passar por aqui.

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  8. ruy,
    a mamãe nasceu em "passagem do onça". é um sertão que fica em viçosa do ceará. mas ela saiu de lá tão cedo que já perdeu o sotaque. eu é que adoro um sertão. gosto das pessoas, dos sons, dos cheiros..
    Vez por outro vou por lá. Deve ser por isso..
    bjos.

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