A Catedral
de São Judas
Parece
que os últimos filósofos decentes a versar sobre religião foram
Pascal, Espinoza, Vico e Kierkegaard. Nietzsche e Schopenhauer são divertidos de ler, mas sabem a certa ressaca
romântica, típica do séc. XIX. Ora, nem todo mundo é louco por
Wagner; e, afora isso, Søren Kierkegaard bota ambos no bolso do casaco como se
fossem lençinhos de rapé. É tão denso o dinamarquês, que o existencialismo já está lá. Mesmo que ao tempo de sua morte Nietzsche não tivesse mais que 11 anos. Simone
Weil e Wittgenstein têm considerações para lá de interessantes,
mas não muito sistemáticas. E de momento, um suíço radicado em Londres, Alain de
Botton, filósofo e apresentador de televisão, lançou um livro paradoxal: Religião para Ateus: Um guia
para Não-Crentes sobre as Utilidades da Religião. O livro de de Botton dificilmente acrescerá algo de mais belo, poético ou misterioso à
Bíblia ou ao Corão, aos Upanishads ou ao Livro Tibetano dos Mortos
do que o futebol de botão acrescenta ao seu correspondente de viva
grama. Mas de Botton - ao que parece para confirmar o estereótipo do masoquismo suiço ou ainda legitimar sua estranha dualidade profissional - vai mais adiante e propõe um templo para
ateus. Quer dizer, para ateus do bem. Ou seja, aqueles que
respeitam as religiões históricas e constituídas. E, sabe-se lá, até emitem
para elas energias positivas, sinais laicos de boa vontade ou seja lá o que isso for. Ou ao menos
não as hostilizam tão abertamente, como é moda nos países
pós-industriais. Ateus “diferentes”, portanto. Da nova era. Da Era de Aquarius? E, não menos importante, ateus sobretudo diferentes dos ímpios Richard Dawkins e Christopher Hitchens, que de Botton
afunda no inferno do ateísmo ao acusá-los de serem péssimos ateus,
pois cheios de má vontade, intolerância e falta de consideração (laica) para com o próximo ateu e para com o não próximo religioso. E excomunga a ambos das hostes do
ateísmo. A espécie de catedral dos ateus - onde se pode adorar quem bem se entenda: Cristo, Buda, Iavé, Maomé, Clark Gable, Iemanjá, Freud, Sophia Loren, Ayrton Senna - já está com metade do investimento captado, segundo de Botton, que deve ter apertado lá seus botõezinhos para tirar tanta grana de ateus beneméritos em tempos de vacas um tanto anêmicas. De outro modo, de Botton descende de judeus sefardí e seu pai trabalhou para os Rothschild na Suíça. Quer dizer, de gerenciamento ele entende. E o templo começará a ser construído no final de 2013. Mesmo que a gente olhe de cá e se indague se não há outras prioridades no âmbito da União Europeia. A edificação será erguida em Londres, naturalmente. Agora, como é uma obra de vulto e ainda não tem nome, vai aqui uma sugestão:
CATEDRAL DE SÃO JUDAS ATEU
CATEDRAL DE SÃO JUDAS ATEU
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