terça-feira, 10 de abril de 2007

Mesmo que pareça (note!) um desastre: Bishop


Wols (A. O. Wolfgang Schulze), 1946-47




One Art


The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.

Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.

I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn't hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.

--Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.

Elizabeth Bishop

Uma Arte

A arte de perder não é de difícil lastro;
certas coisas parecem tão prenhes de perda
que perdê-las não constitui nenhum desastre.

Perca um pouco a cada dia. Aceite o arrasto
do molho de chaves perdido, a hora mal gasta.
A arte de perder não é de difícil lastro.

Então teste perder mais longe, mais rastros:
lugares, nomes, o destino onde pensou passar
as férias. E nada disso pressupõe desastre.

Perdi o relógio de minha mãe. E, ah, que impacto!,
a última ou penúltima das três casas que amei.
A arte de perder não é de difícil lastro.

Perdi duas cidades, que belas. E, mais vasto,
algumas terras, dois rios, um continente,
que saudade, mas não chega a ser desastre.

―Mesmo perder você (anedota na voz, gesto
que adoro) não deve enganar-me. Pois é claro
que a arte de perder não é de tão difícil lastro,
mesmo que pareça (note!) um desastre.







Nota- este é possivelmente um dos mais notáveis e amados poemas em língua inglesa escritos no séc.XX. Extensamente traduzido, tanto no Brasil quanto em Portugal. No Brasil, a versão mais conhecida é a do poeta carioca Paulo Henriques Britto. Não resisti à tentação de traduzi-lo. Originalmente esta versão foi publicada, com uma pequena variação, no Papel de Rascunho, de Virna Teixeira, em 17.01.2006.

2 comentários:

  1. prof. ruy, sou aluno do curso de direito da unifor. não tive o prazer de ser seu aluno, mas leio o seu blog e temos um amigo em comum - daniel lopes. seria um prazer participar daquele projeto (o grupo de estudos). fui àquela palestra sobre o Edwin Morgan. adorei. muito bom mesmo. o seu blog está muito bom, parabéns!

    manoel júnior

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  2. obrigado pela presença no evento do Morgan, e por aqui também.

    qto. ao grupo de estudos, vamos ver se dá certo. seria mto. bom.

    abs.

    ruy

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